No mesmo dia em que o chanceler da Espanha, Miguel Angel Moratinos, se reuniu com o presidente de Cuba, Raúl Castro, a Igreja Católica cubana anunciou que um acordo negociado há meses com o governo da ilha pode resultar na liberação de ao menos 52 prisioneiros políticos. Todos serão soltos em quatro meses.
A princípio, a liberação é unilateral e significa que o governo cubano autoriza os presos a deixarem a ilha e retornarem a seus países de origem.
O assunto foi tema da reunião entre Castro e Moratinos, cuja visita teve como principal objetivo evitar a morte do dissidente cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome há mais de quatro meses, e negociar a libertação imediata de outros presos políticos do regime comunista.
O chanceler espanhol foi recebido pelo seu colega cubano Bruno Rodríguez duas vezes durante a visita e apesar de a chancelaria espanhola não ter fornecido maiores detalhes sobre os temas discutidos, estima-se que a pressão de Moratinos tenha sido decisiva para a decisão sobre os presos políticos.
Esta é a terceira vez que Moratinos visita Cuba para acompanhar a situação dos presos políticos. O chanceler disse que vem "acompanhando" a crise de perto, monitorando o diálogo entre o presidente Raúl Castro e o cardeal Jaime Ortega.
Em 19 de maio as reuniões já resultaram na liberação de um preso político que estava doente e o traslado de 12 detidos para prisões em suas Províncias.
O chanceler espanhol espera que este gesto cubano permitam convencer a União Europeia (UE) de levantar a Posição Comum que desde 1996 condiciona a relação do bloqueio a Cuba com avanços em matéria de direitos humanos.
ONU
A alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos, Navi Pillay, espera que o governo cubano se posicione quanto ao caso do dissidente cubano Guillermo Fariñas, em estado crítico após mais de quatro meses de greve de fome para exigir a libertação de presos de políticos doentes.
"Acompanhamos muito de perto este caso e mantivemos contato com as autoridades cubanas sobre o caso do senhor Fariñas", disse o porta-voz de Pillay, Rupert Colville.
Ele lembrou que a alta comissária fez contato há vários meses com as autoridades cubanas em relação aos casos dos opositores em greve de fome e que, desde então, privilegiou a via do "diálogo" em sua tentativa de contribuir para uma solução.
Colville ressaltou que "greve de fome é uma decisão pessoal" e acrescentou ainda que "é difícil comentar" sobre os direitos humanos vinculados a uma greve de fome.
O porta-voz indicou que a reivindicação de Fariñas não é comum, já que seu objetivo é "mostrar a preocupação com relação à liberdade de expressão, de reunião e de movimento" na ilha.