Os ativistas da comunidade LGBT de Cuba deveriam se reunir em Havana neste sábado (11) para uma marcha anual contra a homofobia e a transfobia — um desfile destinado a promover a tolerância e celebrar um grupo que já foi bastante marginalizado em Cuba.
Mas o governo cancelou abruptamente o evento.
O Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba afirmou em um post no Facebook nesta semana que o Conga Cubano anual contra a Homofobia e a Transfobia não poderia seguir como planejado devido a "novas tensões no contexto internacional e regional", e disse que o evento seria cancelado "em conformidade com a política do Partido, do Estado e da Revolução".
No sábado, a agência de notícias Reuters informou que alguns ativistas planejavam seguir em frente com uma marcha auto-organizada, apesar das restrições impostas pelo governo. O governo cubano mantém o controle sobre as reuniões públicas e não ficou claro se uma marcha alternativa continuaria. Este ano teria marcado o 12º conga anual, e as razões por trás de seu cancelamento foram obscuras, deixando os ativistas frustrados.
A agência de notícias informou que alguns ativistas foram advertidos contra participar de qualquer marcha não autorizada.
Campos de trabalho forçado
A nação insular já foi um lugar perigoso para a comunidade LGBT. Durante décadas, pessoas abertamente gays foram alvos de prisão, com alguns enviados para campos de trabalho forçado. Outros foram negados oportunidades de trabalho.
A homossexualidade foi descriminalizada somente em 1979, e em 2010, o antigo líder cubano Fidel Castro assumiu a responsabilidade pela discriminação contra a comunidade LGBT. "Se alguém é responsável, sou eu", disse ele ao jornal mexicano La Jornada.
As atitudes aparentemente mudaram nos últimos anos. A partir de 2008, o governo cubano aprovou médicos para realizar cirurgias de redesignação sexual.
E no ano passado, o presidente Miguel Díaz-Canel apoiou abertamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, dizendo que acreditava em "casamento entre pessoas sem quaisquer restrições".
Em dezembro passado, a Assembléia Nacional de Cuba disse que eliminaria a linguagem que descrevia o casamento na constituição, "como forma de respeitar todas as opiniões".
Culpa dos... EUA
A declaração que anunciava o cancelamento da conga sugeria que o problema estava enraizado em questões fora de Cuba. As tensões aumentaram entre Cuba e os Estados Unidos desde que Washington apoiou o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, e Havana, aliada próxima da Venezuela, manteve o apoio ao presidente Nicolás Maduro.
Funcionários da Casa Branca acusam Cuba de ter dezenas de milhares de tropas em solo na Venezuela para apoiar Maduro.
O ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla, chamou o conselheiro de segurança nacional do presidente Donald Trump, John Bolton, de "mentiroso patológico que desinforma Trump", e tuitou que há apenas médicos cubanos, não soldados, na Venezuela.
Esta semana, Cuba começou novos racionamentos em produtos essenciais, incluindo frango, ovos e arroz, informou a Associated Press. Na mídia estatal cubana, a ministra do Comércio, Betsy Díaz Velázquez, apontou o dedo para Washington, culpando o embargo comercial dos EUA pela escassez.