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Visita

Cuba diz ao Papa que não vai deixar o socialismo

Bento XVI passa diante de painel com foto de Fidel e a mensagem “rebelde ontem, hospitaleira hoje, heroica sempre” | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Bento XVI passa diante de painel com foto de Fidel e a mensagem “rebelde ontem, hospitaleira hoje, heroica sempre” (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Poucas horas depois de o Papa Bento XVI pedir à Virgem da Ca­­ridade do Cobre avanços no ca­­minho da renovação e da esperança para a sociedade cubana, um dos principais nomes do go­­verno descartou qualquer hipótese de reforma política no país, afirmando que o sistema da ilha é "inquestionável".

A troca de declarações resume uma viagem em que as autoridades procuram consolidar a imagem de regime aberto aos católicos e impulsionar bandeiras co­­mo o fim do embargo norte-americano, enquanto a Igreja se prepara para ganhar espaço em Cuba e criar as bases para um futuro pós-irmãos Castro.

Em uma entrevista no Hotel Na­­­­­­cional, sede da imprensa es­­tran­­geira credenciada para a visita do Papa, o vice-presidente do Conse­­lho de Ministros e supervisor das reformas, Marino Murillo, deu a primeira resposta direta aos co­­mentários do Pontífice, que an­­tes de chegar ao país já havia dito que o comunismo não servia mais pa­­ra o país. Na ilha, o Pontífice abran­­dou o discurso, mas manteve referências a presos políticos e exilados.

Murillo assegurou que o plano de 300 reformas empreendido pelo presidente Raúl Castro seguirá como a base para assegurar a sobrevivência do ideário marxista no país. "Em Cuba, não haverá uma re­­forma política. Em Cuba, estamos falando da atualização do modelo econômico cubano que faça nosso socialismo sustentável", disse, reiterando que qualquer mudança terá como premissa a permanência do socialismo.

O supervisor das reformas econômicas que deram aos cubanos o direito de comprar e vender ca­­sas e carro disse ainda que o governo está acompanhando as mu­­dan­­­­ças em outros países, como Rússia, Vietnã e China. A ideia, se­­gundo ele, não é copiar fórmulas, mas evitar os mesmos erros.

Presos políticos

Durante cerimônia para homenagear a Virgem da Caridade do Co­­bre, o Papa Bento XVI instou os cubanos a "trabalhar por justiça" e disse estar próximo dos que fo­­ram "privados de liberdade".

"Supliquei à Virgem Santíssi­­ma pelas necessidades dos que so­­frem, dos que estão privados de liberdade, separados de seus entes queridos ou que passam por graves momentos de dificuldade", dis­­se o Papa, em referência aos pre­­sos políticos e exilados.

Durante a tarde, o Papa se en­­controu, em Havana, com o presidente Raúl Castro no Palácio da Revolução.

Igreja dribla a censura

Uma imagem do Papa Bento XVI cobre a fachada da Catedral de Ha­­vana. Mas nem "a capital vestida de gala", como citou a agência oficial, nem as centenas de cartazes alusivos à visita mostram a extensão do espaço público obtido pela igreja nos últimos anos.

Se a força tampouco surge na for­­ma de comparecimento de fiéis, a presença e a influência ca­­tólicas aparecem nas iniciativas editoriais livres da censura direta estatal (Palabra Nueva, Espacio Lai­­cal) e na criação recente de um centro cultural. O Centro Félix Va­­rela, inaugurado em 2011, pro­­mo­­ve inéditos de­­bates e conferências em que con­­vivem integrantes do governo e dis­­sidentes – ainda que críticos di­­gam que apenas os discordantes "mansos" do regime são convocados.

A iniciativa abarca cubanos de fora da ilha. O empresário cubano-americano Carlos Sa­­la­­drigas, milionário e militante anticastrista, participará de debate no centro na próxima sexta-feira. O empresário disse em 2011 à Palabra Nueva querer ajudar as "mudanças so­­ciais" em Cuba.

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