Cuba colocou em vigor nesta segunda-feira uma esperada reforma migratória que acaba com restrições impostas há décadas e que dificultavam as viagens de cidadãos do país ao exterior. Desde ontem, os cubanos vão precisar apresentar apenas seu passaporte, o visto exigido pelo país de destino e uma passagem para pegar um avião e sair da ilha, segundo o governo.
A medida foi recebida pelos cubanos com um misto de esperança e incredulidade.
"Isso é fácil demais, tem que haver alguma coisa de errado. Ainda não acredito que seja assim", disse um dos muitos moradores de Havana que foram ontem a escritórios de imigração e de estrangeiros para se informar sobre as novidades migratórias ou para tramitar a obtenção ou prorrogações de passaportes. Ele pediu para não ser identificado.
A blogueira Yoani Sánchez, conhecida por fazer oposição aberta ao regime, diz em relato ao jornal espanhol El País que um inciso da lei deixa aberta a possibilidade de negativa ao visto "por outras razões de interesse público". "Nessa breve frase pode estar incluído o filtro político para impedir que os críticos ao governo participem de concursos ou eventos internacionais", afirma Yoani.
A reforma migratória de Cuba é uma das medidas mais populares das tomadas pelo presidente Raúl Castro porque elimina restrições e burocracias como a chamada "permissão de saída" que as autoridades tinham que conceder para quem quisesse sair do país, ou a famosa "carta de convite".
Também foi ampliado de 11 para 24 meses o tempo que um cubano pode permanecer no exterior por motivos particulares, e foram facilitadas as entradas temporárias de emigrados, inclusive de alguns que segundo o governo deixaram "ilegalmente" o país.
Houve aumento ontem da afluência de cubanos aos escritórios de imigração, onde estão expostos cartazes e painéis com as novidades e onde funcionários dentro e fora dos edifícios assessoravam cidadãos sobre seus casos.
Também era exibida uma lista de situações que requerem autorização específica para viajar, como a de quem estiver convocado para o serviço militar.
A reforma migratória mantém limitações para as viagens ao exterior de profissionais da saúde ou educação e atletas que sejam "vitais" para o país.