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após ataque terrorista

Cuba nega pedido de extradição de líderes do ELN à Colômbia

Pablo Beltran, comandante do ELN e chefe da delegação do grupo às negociações de paz em Havana, fala durante uma entrevista à AFP em Havana, em 21 de janeiro de 2018 | ADALBERTO ROQUE/AFP
Pablo Beltran, comandante do ELN e chefe da delegação do grupo às negociações de paz em Havana, fala durante uma entrevista à AFP em Havana, em 21 de janeiro de 2018 (Foto: ADALBERTO ROQUE/AFP)

O governo colombiano pediu a Cuba, onde estão as principais lideranças da guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional), que estas sejam devolvidas a Bogotá, depois do ataque suicida contra uma escola militar na capital do país que deixou 20 mortos. O regime cubano, liderado por Miguel Díaz-Canel, negou-se a fazê-lo.

Apesar de a ONU (Organização das Nações Unidas) ter condenado o ataque, as mesas de negociação de paz têm um protocolo em que são os países-garante que decidem os rumos da negociação.

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O mais importante nesse caso é a Noruega, que também intermediou a paz com as Farc, e que crê que os comandantes guerrilheiros estão na ilha para retomar as negociações interrompidas pertencem à ala do ELN que quer a paz e não estariam vinculados ao ataque.

Atualmente, a cúpula do ELN está dividida. Os líderes que estão em Cuba seriam os favoráveis à paz, enquanto outra ala, que opera em áreas ligadas ao narcotráfico, não quer que o diálogo continue e comete atentados graves, como o de Bogotá na semana passada, e outros recentes, como a destruição de um oleoduto em Nariño e a derrubada de um helicóptero, também no norte do país.

Cuba, apoiada pela Noruega, alega que as negociações são protegidas por um protocolo que impede a entrega das lideranças do ELN. E deu como exemplo casos de ataques que ocorreram durante a negociação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em que os líderes puderam permanecer na ilha para finalizar a negociação, finalmente aprovada em 2016.

Reação do presidente colombiano

Antes de viajar a Davos, na Suíça, o presidente da Colômbia, Iván Duque, disse não reconhecer tais protocolos nem a autoridade dos países-garante autorizados pela ONU para mediar desentendimentos como este.

Duque alega que não foi ele quem iniciou essas negociações de paz (elas foram iniciadas por seu antecessor, Juan Manuel Santos, mas se encontravam suspensas, não canceladas), e que portanto não tem razões para respeitar protocolos.

Para Duque, os 10 integrantes da cúpula do ELN que estão em Cuba devem retornar o país e apresentar-se à Justiça comum para aportar informações sobre o atentado.

Duque foi apoiado pelo padrinho político, Álvaro Uribe, que crê que o acordo "demasiado permissivo" em suas palavras, de Santos com as Farc, é o motivo da continuidade dos ataques terroristas no país.

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Já opositores, como o ex-presidente Cesar Gaviria (1990-1994), que levou adiante com sucesso as negociações de paz com o temido M-19, disse que a atitude de Duque é radical e provocativa e poderia colaborar para a escalada da violência.

Duque afirmou: "considero sem efeito os protocolos acertados quando as mesas de negociação foram instaladas em Havana, na gestão anterior. Consideramos necessário o cumprimento das ordens de captura e extradição desses negociadores que estão em Havana".

Reação internacional

A chancelaria da Noruega lançou um comunicado pedindo que "a Colômbia não desista de seus compromissos." O texto diz: "Rogamos uma vez mais que aceitem a sincera solidariedade da Noruega com a Colômbia e sua sociedade neste difícil momento".

Já outro país-garante, o Chile, expressou apoio à atitude de Duque e apoia a extradição dos líderes.

Nesta quarta-feira (23), o chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, notificará oficialmente a secretaria-geral da ONU de que as negociações com o ELN estão encerradas.

Reação da cúpula do ELN

As lideranças do ELN que estão em Havana pediram uma solução alternativa, de serem enviados à Venezuela, que tem dado abrigo a várias colunas do ELN, devido aos desentendimentos entre o ditador Nicolás Maduro e Iván Duque.

Em território venezuelano, o ELN não é perseguido e tem espaço para acampar e realizar treinamentos.

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O chanceler Trujillo já enviou diversos pedidos ao governo venezuelano para que os "elenistas" que estão na Venezuela sejam devolvidos a Bogotá. Aos quais, afirma, não obteve nenhuma resposta.

O ELN é hoje a maior guerrilha da Colômbia depois da desmobilização das Farc. Conta com 1,5 mil integrantes e nasceu na mesma época, nos anos 1960.

Há outras, formadas por dissidentes de guerrilhas desmobilizadas, como as Farc, o EPL e os ex-paramilitares. Porém, o ELN é considerado o mais letal, porque seus atentados buscam prejudicar a população civil, com ataques a estradas, obras de infraestrutura e atividades extorsivas, e militar, com ataques a aeronaves ou instalações, como a escola de cadetes de Bogotá.

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