Funcionários cubanos preparam doações que chegaram de países aliados do regime| Foto: Reprodução/Twitter/Ministério de Comércio Interior de Cuba
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A ditadura de Miguel Díaz-Canel está tentando aliviar algumas das pressões populares – e também internacionais – com um pacote de medidas que incluí doação de alimentos e flexibilização de importações. Contudo, as medidas paliativas estão longe de resolver os problemas da ilha, tanto os econômicos quanto os referentes às liberdades civis e direitos humanos.

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A partir desta sexta-feira (30), o regime passará a distribuir alimentos à população. De acordo com o Ministério do Comércio, mais de 3,8 milhões de famílias receberão produtos doados por países apoiadores do regime, como México, Rússia, Nicarágua e Vietnã – que também doaram medicamentos à ilha.

A ministra da pasta, Betsy Díaz Velázquez, teve que esclarecer que a entrega será gratuita, já que, segundo jornalistas independentes, havia receio entre a população de que as doações fossem destinadas à abastecer o mercado racionado.

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Velázquez também disse que o regime passará a aumentar a venda de produtos subsidiados no mercado racionado. "Aumentar a oferta de alimentos é uma prioridade do governo, prova disso é que serão entregues 3 libras (1,3 Kg) de arroz mensalmente por pessoa, garantidos até dezembro, da receita obtida com as vendas" em moeda estrangeira, informou no Twitter o Ministério do Comércio.

Para muitos cubanos, a cesta básica subsidiada pelo regime é a única opção de acesso a alimentos. Há mercados que vendem alimentos e produtos de primeira necessidade em moeda estrangeira, mas os preços são elevados e muitos não conseguem bancar, assim como nos mercados informais.

"Se o regime quisesse ganhar tempo com esta distribuição de produtos para promover reformas estruturais, sua ação seria correta, mas tememos que a necessária virada de 180 graus para a liberdade econômica de que Cuba necessita não entre em seus planos. As doações serão o pão de hoje e a fome de amanhã", opinou o economista cubano Elías Amor Bravo, exilado na Espanha.

Internet e outras medidas

Outra medida de flexibilização adotada pela ditadura comunista é a permissão para a importação de sistemas fotovoltaicos por pessoas privadas. O objetivo é aumentar a participação da energia renovável na matriz energética da ilha, que sofre com constantes cortes de energia. Logo na semana seguinte aos protestos de 11 de Julho, a ditadura também tirou as taxas e cotas para entrada de medicamentos e alimentos no país, trazidos por viajantes.

A Ectesa, única empresa da ilha que fornece serviços de internet e telefonia – e é controlada pelo governo – informou em suas redes sociais que a partir de 1º de agosto vai baixar o preço do SMS e da navegação em zonas WiFi. O serviço se internet foi restabelecido na ilha, após um apagão de vários dias que veio com os protestos de 11 de julho. Para compensar os clientes, a Ectesa forneceu 1 GB de internet para usar em redes sociais por um mês.

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Porém, jornalistas independentes afirmam que o serviço de internet continua instável e que opositores ao regime frequentemente sofrem bloqueio em seus celulares e telefones fixos, em uma tentativa de censurá-los.

Centenas ainda estão presos

Apesar dessas ações, Diaz-Canel não deu sinais de que grandes reformas estão à caminho. Centenas de manifestantes continuam presos: de acordo com a organização de direitos humanos Cubalex, de 11 a 29 de julho, 711 cubanos foram presos ou estão desaparecidos, dos quais apenas 164 foram libertados.

Na quinta-feira, a União Europeia pediu que Cuba liberte os manifestantes, ativistas e jornalistas independentes presos arbitrariamente. O regime rejeitou a declaração "nos termos mais fortes possíveis".

"Exorta a União Europeia a abandonar definitivamente a duplicidade de critérios e a fazer uma avaliação objetiva da verdadeira evolução dos acontecimentos em Cuba, onde prevalece a tranquilidade civil e onde as instituições funcionam normalmente", disse Emilio Lozada, Diretor Geral de Assuntos Bilaterais do Ministério das Relações Exteriores de Cuba em um comunicado. Ele ainda disse que o fato de a UE não ter citado o embargo americano à ilha é "patético".