Um carro clássico (como muitos em Cuba) em uma das ruas do centro da capital Havana.| Foto: Ernesto Mastrascusa/EFE

Quase todos os dias, o pequeno restaurante de Julio César Imperatori na Habana Vieja -- a cidade antiga de Havana -- está lotado de turistas que tomaram a capital de Cuba desde que o governo de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, normalizou as relações diplomáticas com o país e deu fim a meio século de animosidade.

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Entretanto, à medida que o negócio prospera, Imperatori está tendo dificuldades para encontrar produtos para satisfazer a demanda crescente. Com nenhum mercado de atacado nas proximidades, o comerciante tem que ir em busca de produtos de loja em loja, competindo com outras famílias para obter tudo o que precisa para seu estabelecimento, de café a azeite de oliva.

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“Bebidas, cerveja, manteiga, óleo -- as pessoas podem ficar competitivas, especialmente por causa da manteiga”, disse Imperatori, contando que outros comerciantes às vezes o criticam por comprar grandes quantidades de bens limitados.

Já os turistas enfrentam seus próprios desafios. Eduardo Fagioli, um brasileiro de 42 anos, afirmou que teve dificuldade em confirmar sua reserva em uma pensão privada devido a falta de acesso à Internet. Rose Lavarias, 26 anos, de Barcelona, disse que o banheiro do seu quarto de hotel estava sujo. Saranda Belica, funcionária pública de Connecticut, nos Estados Unidos, cancelou seus planos de alugar um carro e dirigir até a cidade colonial de Trinidad, após descobrir que os cartões de crédito norte-americanos ainda não funcionam em Cuba. Ela também disse que teve dificuldade em encontrar água engarrafada.

“Realmente não havia como Cuba se preparar totalmente para isso, para esse tipo de influxo de turistas”, afirmou Tom Popper, presidente do Insight Cuba, uma agência de viagens de Nova York cujas reservas para Cuba dobraram desde janeiro. “Isso tem sido extraordinário”, comentou.

Boom turístico

Ao longo de julho, 2,2 milhões de turistas visitaram Cuba, 17% mais que no mesmo período do ano passado, de acordo com informações do Escritório Nacional de Estatísticas do governo. O país está no caminho de ultrapassar seu recorde anual de 3 milhões de visitantes, alcançado em 2014.

O número de turistas norte-americanos também está crescendo, à medida que o governo dos EUA abranda as restrições de viagem para Cuba. No ano passado, cerca de 90 mil norte-americanos, sem contar os que têm parentes cubanos, visitaram a ilha. O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou em agosto que as viagens do país para Cuba aumentaram 35% desde janeiro, logo após Obama ter anunciado a aproximação com a ilha.

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A força motriz por trás do boom turístico é o desejo entre muitos estrangeiros de conhecer Havana -- com sua arquitetura colonial, do início do século 20, na maioria em estado de má conservação -- antes do que alguns visitantes acreditam que será a sua inevitável transformação.

“Os norte-americanos estão vindo, então nós queremos ver Cuba antes que ela mude”, disse Gery Prendergast, turista irlandês, após tirar fotos de carros norte-americanos dos anos 1950, comuns em Cuba.

Cubanos surfam a onda

Muitos cubanos estão otimistas com o influxo de dólares dos turistas. Rolando Díaz tem visto um aumento em seu negócio: ser motorista dos estrangeiros em seu Mercury branco de 1953. “Todos eles querem andar nesses carros”, disse, enquanto deixava turistas na frente de um bar que Ernest Hemingway frequentava. “Para eles, é um sonho”, comentou.

Algumas quadras longe dali, Hector Higuera recentemente abriu um novo restaurante estiloso destinado aos turistas que correm pelas ruas agitadas de Havana procurando por charutos e camisetas estampadas com os rostos de revolucionários do país. Higuera afirmou que um desafio central para o negócio é encontrar funcionários que saibam como servir os clientes.

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“Deveriam ter mais escolas de serviços para ensinar aos jovens como se mover no mundo real”, comentou.

Os pequenos negócios não são os únicos que enfrentam obstáculos. No popular hotel Habana Libre -- que era o antigo hotel Hilton, local que os irmãos Castro usaram como base central quando tomaram o poder em 1959 -- metade dos elevadores estava fora de serviço recentemente, resultando em uma longa fila de hóspedes para pegar os elevadores que funcionavam.

Algumas companhias norte-americanas entraram no mercado de turismo em Cuba, há muito tempo dominado por firmas da Europa e do Canadá que chegaram ao país nos anos 1990, quando Fidel Castro permitiu pela primeira vez o investimento estrangeiro em Cuba, após o colapso da União Soviética.

O Airbnb, empresa de San Francisco de aluguel de quartos e casas, começou a receber anúncios para Cuba no começo deste ano, entrando na rede do país de casas privadas dispostas a receber hóspedes. A Carnival Corp. planeja oferecer cruzeiros culturais para Cuba em 2016, em um navio com capacidade para 710 passageiros. Além disso, a American Airlines anunciou recentemente que começará a oferecer voos de Los Angeles para Havana.

A Marriott International estima que a ilha possa receber 1,5 milhão de turistas dos EUA por ano, se as restrições de viagem forem removidas.

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“A infraestrutura de turismo em Cuba, em nossa opinião, não está pronta para absorver isso”, disse Laurent de Kousemaeker, chefe de Desenvolvimento da Marriott para o Caribe e a América Latina. Por enquanto, a cadeia de hotéis ainda não pode entrar no mercado de Cuba devido a um embargo que limita o investimento norte-americano no país.

Cecilia Utne, presidente da Cross Cultural Journeys, uma agência de viagens de Washington que oferece tours culturais em Cuba de pessoa para pessoa, já está encontrando dificuldades para encontrar quartos de hotel para as próximas viagens, especialmente em Havana.

“Se você trabalha com grandes grupos, você quase tem de deslocá-los para fora de Havana, e se você quiser ficar em Havana, tem que ficar em lugares periféricos”, comentou Utne, após uma viagem recente com um grupo de estudantes norte-americanos de administração.

María Castro, 59 anos, moradora de Havana, está aproveitando a escassa disponibilidade de hotéis alugando quartos em sua casa. Entretanto, sem acesso a uma Internet estável, ela precisa contar com seu filho, que mora na Nicarágua, para confirmar as reservas dos turistas por e-mail.

“Se eu tivesse a oportunidade de alugar meus quartos para os turistas constantemente, eu o faria, porque eu sonho em um dia ter um carro”, disse. “E essa é a única maneira”, comentou.

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