A reconciliação diplomática com os Estados Unidos, com a abertura das embaixadas dos dois países, na segunda-feira, vem dividindo as opiniões dos cubanos. Nos Estados Unidos, 25 mil cubanos temem que a restauração das relações diplomáticas após 54 anos possa atrapalhar suas vidas, pois eles têm ordens de deportação pendentes. Já para os cubanos que permaneceram na ilha, a reaproximação representa uma nova etapa.
A reabertura das embaixadas foi a notícia de ontem na imprensa cubana (controlada pelo Estado), com manchetes como “Livre e soberana”. O “Granma” publicou a foto da bandeira cubana tremulando no mastro da embaixada do país em Washington. O jornal do Partido Comunista de Cuba dedicou quatro de suas oito páginas ao fato histórico.
Nas ruas de Havana, a população está esperançosa que o trâmite para a obtenção de vistos nos EUA seja agilizado a partir de agora. “Eu acredito que os Estados Unidos poderão nos ajudar, eles têm muito a aproveitar de Cuba e Cuba dos EUA. Vamos nos ajudar”, disse Rosa Elena Navarro, que fazia fila no chamado Parque dos Lamentos, limite da sede diplomática americana.
Após 54 anos de relações rompidas, tempo em que os EUA foram considerados o “inimigo” em Cuba, muitos na ilha confessam que não imaginavam este momento. “Era difícil conceber, mas tudo é possível”, comentou Malena, uma jovem de 25 anos que acredita que esta etapa “será boa para a economia e para as relações entre as pessoas”.
Exilados e dissidentes
Em Miami, cidade americana com o maior número de exilados cubanos, o clima é de apreensão. Pelo menos 25 mil pessoas podem ser deportadas em todo o país— elas cometeram crimes ou são consideradas “ameaça à segurança nacional”. Na maior onda de imigração, no início dos anos 1980, cerca de 125 mil cubanos chegaram ao país. Segundo o serviço de imigração dos EUA, 2 mil dessas pessoas voltaram à ilha.
Em Cuba, a dissidência interna está dividida. “Seguimos insistindo que não haverá mudanças significativas quanto à situação interna em Cuba porque o governo continuará resistindo à necessidade de fazer reformas”, disse o líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, Elizardo Sánchez. Para ele, o acontecimento poderá se transformar em algo somente “simbólico”, com “um efeito mais midiático que substantivo”.
Para Berta Soler, líder do grupo dissidente Damas de Branco, o que ocorreu na segunda-feira “não é nada transcendental, nada que possa beneficiar”.
Já Manuel Cuesta Morúa, do grupo opositor Arco Progressista, avaliou que se tratou de um ato “histórico” que significa “o fim da excepcionalidade de Cuba com relação ao resto da América Latina”.