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Cubanos se reúnem em frente a um albergue no Panamá, após saberem da medida de Obama | RODRIGO ARANGUA/AFP
Cubanos se reúnem em frente a um albergue no Panamá, após saberem da medida de Obama| Foto: RODRIGO ARANGUA/AFP

Dezenas de imigrantes cubanos ilegais se reuniram na quinta-feira (12) em frente a um albergue no Panamá para decidir as próximas etapas de sua rota para os Estados Unidos, após o fim da política conhecida como “pés secos, pés molhados”.

Num calor sufocante e sob a luz de uma enorme lua cheia, os cubanos expressaram sua frustração e indignação contra o presidente norte-americano, Barack Obama, que anunciou a medida alguns dias antes do fim de seu mandato.

“Obama ferrou com todos os cubanos”, lamentou Yadiel Cruz, um jovem de 33 anos que deixou Cuba em 6 de dezembro.

Com a introdução da medida, os cubanos já não poderão receber automaticamente a residência permanente ao chegarem em território norte-americano, como era o caso até agora, mesmo sem qualquer visto.

Tal como os seus compatriotas, Cruz olha ansiosamente para a televisão no abrigo da organização católica Caritas para obter mais informações sobre a nova medida tomada por Obama. “Eu não vou voltar”, garantiu ele.

Outros discutem do lado de fora da casa, de dois andares, que acolhe atualmente 36 mulheres, 18 homens e três crianças.Estas, brincam inocentemente no pátio sem saber o que está acontecendo.

“Sentimo-nos tristes porque todos viemos atrás de um sonho que nos custou muita dor, fome e trabalho duro”, disse Lorena Peña, grávida de quatro meses e que deixou Cuba com seu marido e filha de quatro anos.

Como barcos encalhados

Esta sede da Caritas, no bairro de Ancón, é há meses refúgio para os migrantes cubanos irregulares que pretendem atravessar a América Central e México para os Estados Unidos.

E, para maior infelicidade, o governo panamenho anunciou que os migrantes cubanos não poderão permanecer no país. De acordo com o diretor do Serviço Nacional Migratório, Javier Carrillo, no Panamá há pouco menos de 100 cubanos irregulares que pretendem chegar aos Estados Unidos.

“Eles estão no país de forma ilegal e se não forem embora iremos aplicar a lei migratória como para qualquer outro estrangeiro irregular em qualquer país”, declarou Carrillo.

Vários cubanos se amontoam em um albergue no departamento de Antioquia, na Colômbia, após terem negado o acesso ao PanamáRAUL ARBOLEDA/AFP

Até agora, as autoridades panamenhas deixavam os migrantes seguir seu trajeto, apesar da entrada irregular no país. “Toda vez que eu via uma foto [de Obama] ou de sua esposa fazia um comentário positivo, mas não mais. É decepcionante”, lamentou Peña.

No abrigo há apenas um banheiro e seus ocupantes se organizam para lavar roupa e cozinhar as quatro refeições que recebem graças a doações. Também recebem cuidados médicos.

A maioria deles chegou ao Panamá através da inóspita Darien, na fronteira com a Colômbia, depois de uma viagem por vários países da América do Sul.

Os cubanos tiveram o seu caminho bloqueado pela recusa da Nicarágua e Costa Rica de deixá-los passar, o que os deixou presos no Panamá e Colômbia.

“Não podemos voltar nem seguir em frente. Estamos como em um barco encalhado sem saber o que fazer”, lamentou Julio Hernández.

À espera de Trump

”São milhares de cubanos a fazer a travessia no meio da selva, rios e perigos”, disse Yanisel Wilson, de 20 anos, que chegou há dois dias por Darien. “Eu quero esperar alguns dias para assistir ao noticiário e ver o que vai acontecer. Quero esperar a posse de Donald Trump e ver se vai nos ajudar”, acrescentou ele.

Ulises Ferrer, um construtor de Havana, olha para o seu antebraço, onde tem uma tatuagem com o nome de sua filha Yanelisse. “Agora não sabemos o que fazer, mas o que é certo é que para Cuba não voltaremos”, garantiu.

Em 2015, cerca de 25 mil cubanos ilegais passaram pela América Central. Em 2016, vários milhares foram enviados para o México do Panamá e Costa Rica após um acordo governamental.

Enquanto os debates continuam, Reynaldo Veitia tenta consertar a porta do banheiro e acalmar sua mãe, que o telefonou a partir de Cuba alarmada com a notícia.

“Eu não sou uma criança de três anos, sei o que fazer. Esta é uma medida de Obama, temos que esperar para ver o Trump fará”, disse à sua mãe.

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