Havana – Há anos vivendo sob pressão do presidente Fidel Castro, a incipiente iniciativa privada cubana – em atividades como conserto de encanamentos e venda de pizzas – espera ter algum alívio enquanto seu irmão Raúl estiver no poder. Ainda não há confirmação de que Fidel, 80 anos, afastado 20 dias atrás para uma cirurgia intestinal, vá voltar ao poder.

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Mas os trabalhadores autônomos e os donos de negócios familiares na ilha comunista não prevêem que a economia irá se abrir ao setor privado da noite para o dia. Os "paladares", restaurantes familiares com capacidade para até 12 pessoas, e as casas que alugam quartos para turistas enfrentam várias restrições, pesados impostos e a constante ameaça de perda das licenças, mesmo que tenham sido concedidas há mais de dez anos.

"Raúl vai continuar abrindo a economia. Queremos menos controle estatal", disse Gilberto, que vende livros numa barraca decorada com uma foto de Fidel no centro de Havana. Raúl Castro apoiou reformas econômicas no começo da década de 1990 e seria favorável ao caminho chinês – abertura ao capitalismo sem abrir mão do regime de partido único comunista.

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Como ministro da Defesa, ele introduziu técnicas modernas de administração nas Forças Armadas, que agora comandam as empresas mais eficientes e rentáveis da ilha. Desde 31 de julho, quando Fidel transferiu o poder a Raúl devido a uma cirurgia, alguns dos chamados "cuentapropistas" (autônomos) preferem esperar para ver.

"Dizem que Raúl é mais aberto. A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer aqui", disse, sob anonimato, o dono de um paladar que funciona numa garagem.

Devido à crise econômica que se seguiu ao colapso da União Soviética, em 1991, Cuba permitiu o funcionamento de pequenas empresas privadas no setor de serviços, especialmente alimentação e transporte. Na época, os velhos carros particulares norte-americanos foram autorizados a funcionar como taxis, para suprir a carência de transporte público. Mas, passada a crise, Fidel começou a se voltar contra os autônomos, acusando-os nos últimos anos de enriquecerem à custa do Estado e do povo de Cuba.

O número de autônomos atingiu o auge em janeiro de 1996 (209,6 mil), mas caiu para 166,7 mil no final de 2004, segundo cifras oficiais. O governo atribui isso à recuperação econômica.

Graças à ajuda do petróleo venezuelano e dos empréstimos chineses, o governo voltou a centralizar a economia nos últimos três anos. Cerca de 90% do PIB é produzido pelo Estado.

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Paladares, massagistas, floristas, mágicos e palhaços não recebem novas licenças desde 2004. Os restaurantes e lanchonetes particulares são os mais atingidos, segundo Phil Peters, vice-presidente do Instituto Lexington, entidade conservadora de Washington, que estudou o setor privado cubano.

"Os pequenos empreendedores cubanos estão em baixa, mas não acabaram. Foram reduzidos em número e autorizados a trabalhar em menos linhas de negócios. Mas ainda são visíveis em cada cidade de Cuba, em muitos casos competindo com as empresas estatais", afirmou Peters.

Nas principais cidades, os turistas podem escolher entre os hotéis estatais e as "casas particulares", que fornecem quarto e café-da-manhã. Por enquanto, os "cuentapropistas" evitam falar de política. "Somos só empreendedores, não estrategistas políticos", disse Enrique Núñez, dono do paladar mais bem-sucedido de Havana, o La Guarida, cujas paredes são revestidas com fotos de clientes ilustres, como os atores Jack Nicholson e Matt Dillon e a rainha Sofia, da Espanha.