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Protesto em Paris contra as novas leis trabalhistas na França. | F. Blanc/Force Ouvrierè
Protesto em Paris contra as novas leis trabalhistas na França.| Foto: F. Blanc/Force Ouvrierè

Manifestações, barricadas e greves nos transportes e no ensino na França transmitem uma imagem de país ingovernável, um estereótipo alimentado por uma propensão herdada para o conflito social da Revolução de 1789 que está longe de ser sinônimo de estagnação.

“Este país perece, por vezes, por seu conservadorismo, pela sua incapacidade de se reformar”, considerou recentemente o primeiro-ministro Manuel Valls, que tenta há três meses impor uma reforma trabalhista rejeitada pela maioria dos franceses.

Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas oito vezes para exigir a retirada do texto. Os sindicatos organizaram greves e barricadas em locais estratégicos, como refinarias, usinas nucleares, estações e portos.

As imagens de desordeiros causando estragos e das longas filas nos postos de combustível rodaram o mundo. Um retrato que levou à imprensa estrangeira a pregar-lhe o rótulo de país irreformável.

‘As estatísticas enganam’

Embora as estatísticas possam enganar, é certo que “a França faz parte do top 4 na Europa em termos de número de dias de greve, juntamente com Chipre, Grécia e Espanha”, explica à AFP o pesquisador Kurt Vandaele do Instituto Sindical Europeu (Etui), com sede na Bélgica. E isso apesar do fato de que apenas 11% dos trabalhadores franceses são filiados a um sindicato.

“Na França, o número de dias de greve por ano está geralmente relacionado com as reformas propostas pelo governo sobre o mercado de trabalho ou aposentadoria”, acrescentou, referindo-se a outros protestos de grande magnitude como os de 1995, 2003, 2006 e 2010.

Para Pascal Lamy, ex-chefe da Organização Mundial do Comércio (OMC), a mudança é “mais difícil do que em outros lugares”, devido ao “bloqueio psicológico” da população. “Os franceses têm medo do mundo exterior, porque eles acreditam que põe em perigo a nossa cultura, nossos princípios, a nossa identidade”, escreveu esta semana na revista semanal Le Point. Além disso, “não temos um método de reforma”, diz ele.

“Efetivamente temos uma cultura de conflito”, confirma o historiador Stéphane Sirot. “Desde a Revolução Francesa, a regulação social é baseada na ideia de primeiro um conflito e depois uma negociação. É um modelo que também existe em outros países do sul da Europa”.

Por outro lado, o norte do continente “optou por um modelo regulatório que favorece a negociação e que não chega ao conflito a menos que falhe”.

Mas, acrescenta, as estatísticas são enganosas: se a Alemanha soma menos dias de greve e aparece como um modelo de diálogo social é porque a legislação “é muito mais restritiva do que na França” e, por exemplo, os funcionários estão proibidos de parar de trabalhar.

Os conflitos sociais nas empresas diminuíram: o número de trabalhadores em greve passou de entre três a quatro milhões entre 1946 e 1975, para entre um e dois milhões nos últimos dez anos.

Desde os anos 1980, “a França procura se aproximar de um modelo mais pacífico e de uma cultura de negociação coletiva que, quer queira quer não, se impõe, pelo menos na empresa”, diz Sirot.

Na década de 1970 foram assinados apenas uma centena de acordos trabalhistas dentro das empresas, enquanto agora são quase 40.000. Mesmo o sindicato CGT, um dos mais reivindicativos, assina 85% dos acordos negociados ao nível da empresa, acrescenta.

No atual conflito, o governo socialista, sem maioria parlamentar clara, sofre especialmente com a revolta da ala mais à esquerda do seu próprio partido, declarou ao jornal Le Monde Alain Juppé, favorito da direita para as eleições presidenciais de 2017.

Em sua opinião, “a França não é irreformável. A França avança. A França evolui. As reformas são feitas”, mas para tanto é preciso “dizer a verdade”.

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