Brasília (AE) A Cúpula entre a União Européia e os países da América Latina, que ocorrerá nos próximos dias 12 e 13, em Viena, será dominada pela preocupação de Bruxelas com o avanço do populismo na América do Sul e pela constatação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu sua posição de liderança e de influência sobre a vizinhança.
Segundo uma fonte de Bruxelas, essa percepção ganhou peso com os episódios da semana passada protagonizados pelos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez. "Os recentes eventos na Bolívia mostraram que fracassou a política do Brasil para com os vizinhos da América do Sul. Seu papel de moderador de iniciativas mais radicais enfraqueceu", afirmou um diplomata europeu.
A rigor, o presidente Lula se apresentará em Viena como um chefe de Estado desgastado em seu projeto de integrar a América do Sul. A nacionalização do setor do gás pelo presidente Morales, a quem Lula apoiou nas campanhas eleitorais de 2005, e a atitude morna do Palácio do Planalto para defender os investimentos da Petrobrás injetados na Bolívia apenas coroaram as avaliações da União Européia sobre a perda de expressão de Brasília na solução de dilemas na América do Sul.
Até mesmo do ponto de vista sub-regional, essa liderança estaria cada vez mais porosa. Prioridade da política externa de Lula, o Mercosul deu novamente mostras de sua fragilidade com as recentes declarações do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, de que seu país levaria adiante a negociação de tratados bilaterais de comércio. Romperia, portanto, com o projeto de união aduaneira do bloco, que negocia há oito anos um acordo de liberalização comercial com a União Européia.
Em Bruxelas, cresce também a preocupação com a atuação de Chávez na região, especialmente neste ano de eleições presidenciais no Peru, no Brasil e no Equador e de riscos de consagração de discursos populistas.
Na avaliação de Gilberto Dupas, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade de São Paulo, ainda é possível para Lula "fazer do limão uma limonada" e enterrar a imagem de que a liderança regional do Brasil acabou nas mãos de Chávez. Dupas acredita que o episódio Evo Morales poderá ser apresentado aos europeus, em Viena, como uma questão sul-americana, que será contornada em favor do projeto de integração energética regional.