A crise diplomática entre a Colômbia e a Venezuela promete marcar o compasso das discussões da 39ª reunião de cúpula de ministros e presidentes do Mercosul, que começa nesta segunda-feira (2) na pacata cidade argentina de San Juan, capital da província homônima, a apenas cinco dias da posse do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, marcada para a sexta-feira.
"Não é um assunto de agenda", tentou minimizar o chanceler argentino Héctor Timerman, em referência ao conflito caribenho, intensificado pelas ameaças de guerra por parte do presidente venezuelano Hugo Chávez e sua ordem de mobilizar tropas à fronteira. Mas, Timerman admitiu elipticamente que o caso estará sobre a mesa de discussões: "os presidentes mantém diálogos sobre todos os assuntos".
Formalmente, a agenda oficial da cúpula estará centrada na discussão sobre o fim da dupla tributação alfandegária - que arrasta-se sem solução há seis anos - e o lançamento do código alfandegário, que estaria "quase pronto", segundo a diplomacia em Buenos Aires.
Além disso, os integrantes do Mercosul também esperam anunciar um acordo de livre comércio com o Egito, além de avaliar o andamento da retomada das negociações para um acordo com a União Europeia. Os governos do Mercosul também anunciarão uma série de investimentos realizados pelo Fundo de Convergência Estrutural (Focem).
O pivô da crise caribenha que focaliza a atenção do Cone Sul são as denúncias do presidente colombiano Alvaro Uribe sobre a suposta presença de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em acampamentos dentro de território venezuelano
As acusações são categoricamente rejeitadas por Chávez, que mobilizou tropas para a fronteira com a Colômbia para evitar uma hipotética e iminente invasão ordenada por Uribe ou por "El Império" (denominação que aplica para os Estados Unidos, aliado da Colômbia).
Além de Chávez, que promete ser a estrela da reunião, estarão presentes em San Juan os presidentes dos países-sócios do Mercosul, isto é, Luiz Inácio Lula da Silva, o uruguaio José Mujica, o paraguaio Fernando Lugo, além da anfitriã do evento, a presidente Cristina Kirchner. Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Chile, Sebastián Piñera, irão na categoria de presidentes de países associados do Mercosul.
San Juan, no sopé da Cordilheira dos Andes, conta com uma paisagem admirada pelos poucos turistas que frequentam o lugar, mas carece de infraestrutura adequada para um evento de tal magnitude. No entanto, é a terra do governador José Luis Gioja, virtual candidato a vice-presidente do ex-presidente Néstor Kirchner nas eleições presidenciais do ano que vem.
A diplomacia argentina negou os rumores sobre a eventual presença do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, no convescote presidencial em San Juan.
O venezuelano Hugo Chávez também participará da cúpula, já que seu país é considerado sócio em processo de adesão. A associação plena da Venezuela está pendente da aprovação do Parlamento paraguaio, onde os partidos da oposição (e dentro das próprias fileiras da coalizão de governo) existe forte resistência à entrada da Venezuela comandada por Chávez.
A resistência a votar a favor da entrada do parceiro venezuelano intensificou-se nas últimas duas semanas, desde o recrudescimento das tensões geradas entre Caracas e Bogotá.
Na terça-feira à tarde, depois do encerramento da cúpula do Mercosul será realizada uma reunião bilateral entre a presidente Cristina Kirchner e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.