Um polêmico muro que os Estados Unidos decidiram construir na fronteira com o México para impedir o acesso de imigrantes foi criticado em uma resolução especial aprovada na sexta-feira em Montevidéu por chanceleres reunidos na 14a Cúpula Ibero-Americana.
O documento será revisto e assinado no sábado e no domingo pelos líderes dos mais de 20 países participantes da cúpula, cujo tema central é imigração.
O chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, indicou que alguns países queriam mais rigidez no texto para condenar a iniciativa, mas que houve consenso.
``O texto proposto pelo México é de rejeição à decisão do governo dos Estados Unidos, não há condenação. E se adotou sem dificuldades por todos os países'', disse a jornalistas em entrevista.
O texto do comunicado pede textualmente aos Estados Unidos para ``reconsiderar a construção de um muro divisório na América''.
Apesar da atividade dos chanceleres, a cúpula foi marcada pela ausência de alguns dos principais líderes da região. Não participaram do encontro nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem Hugo Chávez, presidente da Venezuela e de quem se esperava alguma reação em um evento internacional, após o fracasso do país em conseguir uma vaga no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
``Aprovou-se tudo o que foi proposto. Cooperação energética com a Venezuela, uma resolução sobre o muro na fronteira México-EUA, falou-se de terrorismo. Foi uma das reuniões mais proveitosas que já vi'', disse à Reuters Enrique Iglesias, presidente da Secretaria-Geral Ibero-Americana.
Os mandatários da região e da Espanha começaram a chegar na sexta-feira a Montevidéu, onde cerca de 4.000 policiais e militares fazem a segurança. Já começaram os encontros bilaterais entre governantes de países que viveram atritos recentes.
Um deles foi entre o anfitrião Tabaré Vázquez e o argentino Néstor Kirchner, para discutir a construção de uma usina de celulose às margens do rio Uruguai. Os argentinos consideram que a obra poluirá o rio fronteiriço.
Também já estão nas ruas os grupos antiglobalização, presença frequente nos últimos anos em qualquer reunião multilateral no mundo.
``MURO DA VERGONHA''
Colômbia, Uruguai e Costa Rica já haviam se manifestando contra a construção do muro nos 1.125 quilômetros da fronteira dos Estados Unidos com o México.
``É realmente um muro vergonhoso. Gastar milhões para construir este muro é ignorar que a pobreza não precisa de passaporte para viajar'', disse o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, a jornalistas.
``Esse dinheiro seria muito melhor investido em ajudar os vizinhos pobres do sul, educar nossos filhos, dar uma saída para os nossos povos'', acrescentou.
A maioria dos imigrantes que chega aos EUA pela fronteira terrestre é oriunda do México e da América Central.
Estima-se que haja 12 milhões de imigrantes clandestinos nos EUA. Cifras do Congresso apontam que 472 pessoas morreram no ano passado tentando cruzar a fronteira, e que 1,2 milhão foram presas.
``Migrar não é um delito, e por isso os Estados não desenvolverão políticas voltadas para criminalizar o migrante'', disse a resolução. ``Rechaçamos todas as ações unilaterais e coercitivas de efeito internacional que afete o clima de diálogo e contra as normas de respeito mútuo em matéria obrigatória.''