Depois de já ter conhecido mais de 110 países em viagens pelo mundo, o curitibano Guilherme Canever, 38 anos, decidiu que era hora de conhecer os que não existem.
Espera, vamos explicar: muitos desses destinos possuem território definido, população permanente, autonomia governamental e tudo o mais que um país precisa ter, como estabelece o direito internacional. No entanto, ainda não são reconhecidos internacionalmente, seja por conflitos políticos e econômicos, seja por disputas territoriais. Esses países são chamados Estados de facto (na prática), mas não de jure (pela lei).
Hoje, existem pelo menos dez países independentes, mas não reconhecidos como tal: Somalilândia, Transnístria, Abkhazia, Nagorno-Karabakh, Kosovo, Chipre do Norte, Palestina, Saara Ocidental, Ossétia do Sul e Taiwan. Desses, Guilherme só não passou pelos dois últimos (veja as fotos das andanças do curtibano).
Universo paralelo
A ideia de viajar esse itinerário inusitado surgiu quando Guilherme excursionava em uma volta ao mundo com a esposa, Bianca. Por acaso, os dois foram parar na Somalilândia, território localizado ao Norte da Somália que declarou sua independência unilateralmente em 1991.
A Somalilândia possui bandeira nacional, brasão de armas, lema, hino, capital e moeda e, apesar de funcionar de maneira organizada e democrática, oficialmente pertence à Somália, país há anos dividido em zonas de intervenção.
“É quase um universo paralelo. É o único país do mundo não-reconhecido por nenhum outro, mas precisei fazer visto para entrar, utilizar a moeda local para consumir... E apesar de ficar em uma região da África com grandes problemas econômicos e marcada por conflitos civis, a Somalilândia conseguiu sozinha organizar aquele espaço, torná-lo seguro, funcional”, lembra.
O que é um país?
Essa primeira experiência provocou uma reflexão: o que é um país, afinal? O conceito, embora balizado por regras do direito internacional, na prática se mostra mais flexível – tem a ver com política e também com a cultura e a história de uma população; tem a ver com identificação de um povo com determinado território.
“A ONU reconhece 193 países; a FIFA tem 209 países afiliados; para pedir o visto para os Estados Unidos, você tem que informar sua origem entre 251 opções. Há regiões que declararam sua independência unilateralmente mas permanecem em disputa; há lugares que já foram independentes e hoje estão anexados a outros países; há repúblicas autônomas, como as da Rússia... Ser ou não reconhecido como um país não impacta o cotidiano da população, elas continuam acordando, trabalhando, tomando sorvete, fazendo aquilo funcionar”, observa.
Aqui, ele conta como foi desbravar alguns territórios que, a despeito de uma existência muito concreta, não existem no ordenamento internacional.