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Ciência

Curitibano ganha primeira mão biônica controlada pela mente

Pierpaolo com a mão biônica (ontem) e durante os testes (2008), em que controlou a mão a distância: possibilidade de usá-la no futuro | Campus Biomedico de Roma
Pierpaolo com a mão biônica (ontem) e durante os testes (2008), em que controlou a mão a distância: possibilidade de usá-la no futuro (Foto: Campus Biomedico de Roma)

Um curitibano foi a primeira pessoa no mundo a controlar uma mão biônica por meio de impulsos neurais. O Campus Bio­­medico e a Scuola Superiore Sant’­­Anna di Pisa apresentaram um vídeo ontem, em Roma, de um experimento feito em no­­vembro de 2008 com o assessor parlamentar Pierpaolo Petruz­­ziello.

Uma mão biônica desenvolvida pela faculdade de cibernética de Roma foi conectada a distância ao sistema nervoso de Pier­­paolo, de 27 anos. Ele pôde controlá-la por meio de eletrodos, e disse ter captado sensações com o membro artificial.

"É uma questão da mente, de concentração", disse a jornalistas em Roma. "Quando você pensa naquilo como sua mão e antebraço, tudo fica mais fácil."

"A abordagem que seguimos é natural’’, diz Paolo Maria Ros­­sini, neurologista que coordena a pesquisa. "Ele não tinha de aprender a usar os músculos a fazer um serviço diferente do natural. Só precisava se concentrar muito e enviar à mão robótica as mesmas mensagens que costumava mandar para a própria mão’’, afirma Rossini.

Pierpaolo, que é assessor do deputado estadual Alexandre Cu­­ri (PMDB) e conselheiro do Coritiba, time do qual é torcedor, perdeu o braço em 2006 ao tentar desviar de um pedestre em­­briagado que entrou na frente de seu carro.

O pai, Walter Petruzziello, presidente para o Paraná e Santa Catarina do Conselho dos Ita­­lianos no Exterior, ficou sabendo da pesquisa italiana e escreveu para a equipe científica, que se dispôs a testar a ideia com o brasileiro, que tem cidadania italiana.

"Passei por uma bateria de testes psicológicos. O treinamento para aprender a mexer a mão foi sacrificante, exigia um esforço mental acima da média. Eu imaginava que a prótese era parte do meu corpo e tentava. Mui­­tas vezes acaba cansando, até porque chegava a ficar oito horas por dia no treino’’, afirma Pier­­paolo, que retorna neste sábado a Curitiba.

Durante 24 dias em que a mão esteve conectada, ele aprendeu a mexer os dedos de forma independente, fechar a mão e segurar objetos, entre outros movimentos. De acordo com amigos, ele deve trazer a mão ao Brasil quando acabarem os testes. O equipamento é feito de aço, alumínio e fibra de carbono e foi conectado a dois nervos do braço amputado por meio de quatro minúsculos eletrodos.

Petruzziello diz estar ciente de que a pesquisa está apenas no começo: os cientistas afirmam que levarão dois ou três anos pa­­ra realizar o mesmo teste por períodos maiores. Primeiro, é ne­­cessário descobrir se os eletrodos – que têm a espessura de fios de cabelo – podem permanecer no organismo por mais tempo.

Pesquisa

A chamada interface cérebro-máquina é uma das áreas mais férteis da neurociência hoje. Um dos expoentes é o brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, cujo objetivo é fazer com que até tetraplégicos possam mexer um exoesqueleto robótico. Ao que parece, o cérebro é ca­­paz de "representar’’ o membro biônico como se ele fosse parte do corpo do paciente.

Experimentos similares já ha­­viam sido feitos no mundo, mas o controle de movimentos complexos de uma mão biônica co­­nectada ao sistema nervoso foi inédito.

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