Curitiba – Uma missão para marcar a vida de qualquer militar. O Brasil vai enviar o segundo grupo de 24 militares (21 do Exército e 3 da Força Aérea) para atuar como observadores militares na Missão das Nações Unidas no Sudão (Unmis). Nascido em Curitiba, o capitão Marco Aurélio de Castro, de 33 anos, é um dos recrutados para a tarefa. Ele embarca para Darfur amanhã e deve permanecer no país africano por um ano.

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O cenário que Castro irá enfrentar no Sudão é pra lá de hostil. Os relatórios mais recentes da ONU mostram que 80 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por conta do recrudescimento da violência na região. Desde 2003, a guerra civil deixou mais de 200 mil mortos e mais de 2 milhões de deslocados internos.

Castro conta que os militares passaram por uma curso intensivo em Brasília no Centro de Preparação e Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (Cepaeb). "Tivemos uma boa preparação com instrutores que já vivenciaram conflitos em várias partes do mundo. Esperamos cumprir a missão e representar bem o Brasil no Sudão."

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A expectativa é grande para vivenciar uma cultura tão diferente da brasileira, diz o capitão. "A família também fica preocupada porque as notícias sobre o Sudão sempre chocam por conta da violência." Castro espera poder ajudar os sudaneses e vê na missão uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Em passagem por Curitiba para visitar a sua família, o capitão Eron Pacheco da Silva, de 33 anos, voltou no mês passado após passar um ano no Sudão. Na Unmis atuam mais de 750 observadores militares, de mais de 70 países, diz. "Nosso trabalho é o de observar e relatar os conflitos e problemas do país." Os observadores militares também fiscalizam se o acordo de paz firmado em 9 de janeiro de 2005 entre o governo sudanês e o Movimento de Libertação do Sudão está sendo cumprido, explica Pacheco.

O momento mais dramático que o capitão Pacheco enfrentou no Sudão ocorreu em fevereiro deste ano.

Ele e seu irmão, o capitão Erlon Pacheco da Silva, foram até a capital Cartum fazer exames médicos e foram cercados por um grupo que os colocaram em um carro. "Passamos mais de três horas incomunicáveis. Nos identificamos como militares da ONU, mas não resolveu. Depois descobrimos que eram do Exército do governo sudanês."

O capitão Eron acredita que pelo só pelo fato de a ONU estar no Sudão já ajuda a conter um pouco os conflitos na região. "Fiquei impressionado com a precariedade das cidades, das casas, da falta de saneamento básico, de água, luz ... O país foi devastado nesses 21 anos de guerra civil".

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Muitos sudaneses vêem nas tropas da Unmis uma esperança para resolver os problemas que enfrentam, conta. "Relatamos esses problemas para as outras agências da ONU para que também localizem onde estão concentrados os casos extremos de fome, por exemplo."

Ontem, a ONU anunciou o plano de trabalho para 2007 na região. Segundo a organização, o plano para consolidar a paz no Sudão prevê um financiamento de US$1,8 bilhão, sendo que US$ 600 milhões seriam utilizados em ajuda humanitária.