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Identitarismo

Curso antirracista em 100 universidades britânicas ensina que “cancelamento tem benefícios”

Estátua de Cristóvão Colombo vandalizada com tinta vermelha em Londres
Estátua de Cristóvão Colombo vandalizada com tinta vermelha na Praça Belgrave, em Londres, outubro de 2021. (Foto: EFE/EPA/FACUNDO ARRIZABALAGA)

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A Open University, maior instituição de ensino superior do Reino Unido em número de alunos (mais de 175 mil), lançou um programa de treinamento “antirracista” que alega que a língua inglesa prega uma “superioridade branca”.

O programa, chamado Union Black (algo como “União Negra”), ensina a acadêmicos de todo o país, em quase 100 universidades, que a “psicologia cultural da língua inglesa” tem entranhada em si uma “hegemonia branca” que foi “introduzida de forma oculta” nas mentes dos falantes do inglês.

“Junto à religião, política, leis e costumes, a superioridade branca está incrustada na psicologia linguística e cultural da língua inglesa. (...) Em consequência, dado o alcance global da língua inglesa, o pressuposto da hegemonia branca foi introduzido de forma oculta na consciência das pessoas brancas, pessoas negras e pessoas de cor”, diz o material, que também adere à ideia nova de que o racismo seria não apenas uma crença consciente de poucos, mas um “viés inconsciente” que todas as pessoas carregam e a respeito do qual podem estar “em negação”.

Os autores do programa de estudos são especialistas em diversidade da Open University. Segundo o jornal britânico The Telegraph, o grupo Santander investiu 500 mil libras esterlinas no Union Black, mais de R$ 3 milhões na cotação atual. Instituições como o Imperial College de Londres adotaram o curso.

Ataque a Winston Churchill

Os especialistas em diversidade alegaram no material que “em 1955, o primeiro-ministro Winston Churchill ganhou uma eleição geral com um tema de ‘Manter a Inglaterra Branca’”. Em 2020, a estátua desse estadista que decidiu entrar em guerra com Hitler precisou ser protegida com tapumes contra o vandalismo de radicais do movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras são Importantes”).

O programa antirracista repete clichês do identitarismo de raça como o da impossibilidade de brancos serem vítimas de racismo. “O racismo reverso é uma ideia mitológica”, pois grupos precisam de poder para serem racistas. A alteração da definição de racismo de preconceito baseado em características raciais para um jogo de poder é uma das marcas do ativismo identitário e sugere suas raízes acadêmicas na “teoria crítica” da chamada escola de Frankfurt, também conhecida como “marxismo cultural”. O filósofo Herbert Marcuse, expoente dessa escola, pregava que “a tolerância libertadora” consiste em “intolerância contra movimentos de direita e tolerância aos movimentos de esquerda”.

“As pessoas ‘brancas’ só existem em oposição às pessoas ‘negras’, ambas as quais são ideologias socialmente construídas”, alegam os acadêmicos do Union Black. “Uma análise desinteressada considerando quem pode ser racista sugere que nenhum outro grupo ético ou dito racial impôs de forma ideológica e econômica com tanto sucesso ideias racializadas na psiquê coletiva de seu próprio grupo e de outros quanto os europeus brancos.”

Reação

Zareer Masani, historiador do Império Britânico, disse que o programa é “caracteristicamente identitário” e que é “um sinal de alarme da tomada da academia pelo identitarismo”. O programa “é a-histórico, é ignorante, e é analfabeto”, declarou ele ao Telegraph. “É um triste sinal de lavagem cerebral identitária nos nossos futuros acadêmicos. Revela uma ignorância abismal de como qualquer língua evolui, assimilando influências diversas pelo caminho”. Os termos usados por Masani, “woke” e “wokedom”, também podem ser traduzidos como “lacrador” e “lacração”, usados no linguajar político informal brasileiro.

O Santander defendeu seu financiamento do curso e alega que ele tem sido bem recebido. A Open University se diz “orgulhosa de trabalhar junto ao Santander no desenvolvimento desse curso que tem como meta a conscientização sobre o racismo e a construção de aliados que apoiem a inclusão”. O curso é menos brando no linguajar: “Em relação à justiça racial/social, mostrou-se que a cultura do cancelamento promove benefícios”. Entre os benefícios da cultura do cancelamento estaria “promover a ação coletiva para atingir a justiça social e a mudança cultural através da pressão social”.

No Brasil, o Santander Cultural de Porto Alegre se envolveu em polêmica similar em 2017 com a exposição “Queermuseu”, com tema identitário LGBT, na qual foram envolvidos 84 artistas e 223 obras. Uma peça de exibição era um homem nu que crianças podiam tocar. Fechada pelo Santander, a exposição reabriu no ano seguinte na Escola de Artes Visuais do Rio após quase duas mil pessoas doarem um total de mais de R$ 1 milhão para o evento. A exibição original havia sido financiada com R$ 800 mil de isenção fiscal via Lei Rouanet.

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