Um dia após a renúncia do então presidente Jacob Zuma, Cyril Ramaphosa foi escolhido pelo Parlamento da África do Sul nesta quinta-feira (15) para assumir a Presidência do país até o fim do atual mandato, em 2019.
Ramaphosa, que era vice de Zuma, era o único candidato à Presidência, já que partidos de oposição boicotaram a votação. A oposição desejava a dissolução do Parlamento e novas eleições.
Zuma renunciou depois de anos de escândalos que mancharam seu histórico como um dos líderes da luta pelo fim de apartheid ao lado de Nelson Mandela (1918-2013) e arranharam a imagem de seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano).
Mais cedo, legisladores do partido de oposição Lutadores da Liberdade Econômica deixaram o plenário, dizendo que a votação era ilegítima. Ramaphosa promete combater a corrupção, mas partidos de oposição como a Aliança Democrática dizem que o CNA protegeu Zuma por anos apesar das diversas acusações contra ele.
O CNA tem a maioria no Parlamento, porém, e conseguiu os votos para eleger Ramaphosa.
Ultimato
As negociações pela saída de Zuma, eleito em 2009 e reeleito em 2014, se arrastavam havia dias. No fim de semana, segundo relatos da mídia sul-africana, ele já havia concordado em deixar o cargo, mas impusera condições.
A resposta do CNA veio sob a forma de ultimato, e como o presidente se recusava a atendê-lo, o partido anunciou que apoiaria o voto de desconfiança pedido pela oposição no Parlamento, o que na prática forçaria sua saída.
Ramaphosa havia vencido em dezembro a disputa para suceder Zuma no comando do CNA, partido que dirige a África do Sul desde o fim do apartheid, em 1994. Parte da cúpula do CNA teme que a derrocada do agora ex-presidente prejudique o partido nas próximas eleições, abrindo espaço para a ascensão de uma oposição que nunca esteve no poder.
Denúncias
Ex-companheiro de prisão de Mandela (passou dez anos em Robben Island, até 1973), controverso, carismático e polígamo, Zuma, 75, é investigado por corrupção e foi absolvido, em 2006, de uma acusação de estupro.
Também está sob escrutínio sua ligação com a família Gupta, dona de um conglomerado que abrange de mineração à aviação civil, tecnologia e energia e emprega 10 mil pessoas, com receita anual de US$ 22 milhões.
Os Gupta, de origem indiana, são acusados de subornar autoridades para obter contratos públicos e de influenciar a escolha do gabinete. Uma operação policial nesta quarta e quinta que tem a família como alvo já prendeu oito pessoas -eles negam as acusações, assim como Zuma.
Zuma é objeto de também denúncias que envolvem reformas feitas em sua casa pagas com dinheiro público. Em 2016, o então presidente enfrentou uma votação de impeachment e venceu.
Crise política
Em 2016, a Suprema Corte da África do Sul afirmou que Zuma violou a Constituição ao não devolver ao governo as verbas públicas usadas em reformas (no valor total de R$ 50 mi) de sua casa, que incluíram a construção de uma piscina e de um anfiteatro
Ligação com os gupta
A milionária família de origem indiana foi alvo de uma operação da polícia nesta quarta (14). Os Gupta são suspeitos de pagar propinas em troca de contratos com o governo Zuma, além de tentar influenciar o presidente com indicações para cargos ministeriais
Propinas e armas
Caso que foi retomado pela Suprema Corte em 2016 e diz respeito a propinas que Zuma teria recebido em 1999, quando era vice-presidente e negociou uma compra de armamentos que totalizou US$ 2,5 bilhões, em valores atualizados. Segundo um ex-advogado da fabricante francesa Thales, teria sido oferecido a Zuma um suborno anual de 500 mil rands (US$ 81 mil em 1999 ou US$ 41 mil hoje)
Zuma, no entanto, nega qualquer irregularidade e se diz vítima de uma injustiça cometida por seu partido.