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Migrantes protestam pela abertura da fronteira da Macedônia, em campo de refugiados na Grécia | DANIEL MIHAILESCU/AFP
Migrantes protestam pela abertura da fronteira da Macedônia, em campo de refugiados na Grécia| Foto: DANIEL MIHAILESCU/AFP

Eles tomavam as ruas com a esperança de dobrar o regime de Bashar Al-Assad. Cinco anos depois da revolta, alguns destes militantes sírios se refugiam na Europa, um destino que jamais haviam imaginado.

Ao receberem em seus smartphones as últimas notícias de familiares que continuam na Síria, a milhares de quilômetros, estes militantes pró-democracia lamentam que sua revolta tenha se tornado uma guerra devastadora.

“Quando cheguei à Alemanha, tive a impressão de viver com uma ferida aberta, de ter vendido minha alma. Sentia-me culpado por ter abandonado tudo”, afirma Jimmy Shahinian, um militante de 28 anos. “Havíamos prometido que mudaríamos as coisas”, declarou à AFP, em uma entrevista por telefone desde sua nova casa, que divide com outros jovens, em Genthin, a oeste da capital, Berlim.

O conflito sírio eclodiu em março de 2011, com manifestações que pediam reformas democráticas. Os militantes usaram as redes sociais para pedir a saída do presidente Assad. Por ter participado deste movimento, Jimmy Shahinian, um cristão, passou nove meses preso, e afirma ter sido torturado.

Após a tomada de Raqqa, no Norte do país, sua cidade natal, pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), e depois de receber ameaças de morte, teve que sair de seu país, como fizeram milhões de compatriotas.

Escondido em uma ambulância, chegou à Turquia, mas ali não se sentia seguro. “Não tinha outra opção se não partir”, relata.

“Espírito assediado”

Shahinian se mudou para a Alemanha, onde hoje tenta dar continuidade ao seu combate através da Cidadãos pela Síria, uma associação baseada em Berlim, onde trabalha como voluntário. Aprende alemão, mas confessa que “é muito difícil se acostumar com esta nova vida”. “Fomos a faísca que desencadeou a revolução, mas também fomos os primeiros a nos queimar”, disse.

Para o jornalista Yazan, 30 anos, abandonar uma causa pela qual se está disposto a morrer é algo impossível. Ele sobreviveu a uma ofensiva de dois anos na cidade antiga de Homs, que era chamada, no início das manifestações, de “capital da revolução”, mas que, agora, está sob o controle do regime.Depois de enfrentar os bombardeios por meses, Yazan passou a viver na casa de seu tio, em Saint-Etienne, no centro da França.

Agora, aproveita suas noites para acessar páginas do Facebook de outros militantes, acompanhando as notícias sobre o que acontece em seu país. “Na Síria, meu corpo estava limitado. Aqui, é meu espírito que está limitado”, afirma.

Yazan explica que seu pai e seu irmão estão presos nas cadeias do regime, junto a outras 200 mil pessoas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Ahmad al-Rifai, 24 anos, que passou meses tirando fotos na base da oposição, no norte do país, também está na Alemanha, onde mais de 1 milhão de solicitantes de asilo foram registrados no ano passado.

O jovem acusa o governo sírio e a comunidade internacional de terem transformado a revolta em uma guerra que tomou a população como refém. “Antes, em tempos melhores, as pessoas podiam decidir quando e onde protestar”, assegura, referindo-se ao início do movimento.

“Hoje, os sírios já não têm qualquer poder de decisão. O país se transformou em um campo de jogo para as grandes potências, como Rússia, Estados Unidos e Irã”, lamenta al-Rifai, que trabalha como intérprete na Cruz Vermelha.

Apesar da dor de ver suas terras devastadas, ele tenta não perder a esperança e esperar retornar à Síria um dia, para ajudar a reconstruir seu país. “Militante um dia, militante para sempre”, afirma.

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