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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, cujo candidato à eleição presidencial deste mês é o seu ministro da Economia, Sergio Massa
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, cujo candidato à eleição presidencial deste mês é o seu ministro da Economia, Sergio Massa| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni

Em setembro, o governo da Argentina anunciou uma novidade inusitada para “amortecer” o impacto da divulgação das notícias sobre a inflação, descontrolada no país.

Paralelamente aos números informados mensalmente pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), que continuarão a ser divulgados, a Secretaria de Política Econômica do governo federal começou a publicar dados semanais próprios da inflação no país.

Nesta sexta-feira (6), a pasta informou que a variação de preços na semana entre 25 de setembro e 1º de outubro foi de 1,3%, sexta vez consecutiva em que a inflação baixou.

O índice chama a atenção porque consultores privados têm afirmado que a inflação está acelerando na Argentina devido à desvalorização de 22% do peso promovida pelo governo peronista em agosto.

Segundo o Indec, a variação média dos preços na Argentina em agosto em relação a julho foi de 12,4%, a maior desde 1991. O índice é praticamente o dobro do registrado em julho, quando a inflação mensal foi de 6,3%. A inflação em 12 meses subiu para 124,4%, após ficar em 113,4% em julho.

Será necessário esperar os dados de setembro do Indec para saber se os números semanais divulgados pela Secretaria de Política Econômica correspondem à realidade: o índice do mês passado será divulgado na próxima quinta-feira (12), dez dias antes da eleição presidencial na qual o ministro da Economia, Sergio Massa, é o candidato governista à Casa Rosada.

Consultorias ouvidas pela Bloomberg estimam que a inflação de setembro na Argentina ficou entre 11% e 12,5%.

Economistas têm questionado os dados da Secretaria de Política Econômica. Luciano Cohan, cofundador da consultoria Alphacast, fez uma série de perguntas no X ao titular da pasta, Gabriel Rubinstein.

“Gabriel, onde posso encontrar a metodologia do cálculo? Como é composta a amostra? Quanto da cesta básica cobre e como são as ponderações? Como interpolam? Como tratam os [produtos e serviços] que faltam? Que cobertura geográfica tem? É um cálculo estatístico ou econométrico?”, questionou.

Outro economista, Martin Rozada, do Centro de Pesquisas Financeiras da Universidade Torcuato Di Tella, foi mais incisivo numa postagem no X. “A Secretaria de Política Econômica se transformou em uma consultoria kirchnerista, divulgando dados falsos da inflação semanal...”, escreveu.

Gabriel Rubinstein, que disse numa entrevista que os dados semanais são “uma estimativa absolutamente independente [da pesquisa mensal] do Indec, como qualquer consultoria pode fazer”, rebateu Rozada também no X.

“Você está mentindo: não são dados falsos, mas estimativas de um grupo profissional especializado (e não de uma empresa de consultoria kirchnerista), que vem trabalhando nisso há meses. É uma pena que você continue a cultivar divisões”, escreveu Rubinstein.

Se a ideia de divulgar dados da inflação semanalmente para diluir o impacto da variação de preços já gera estranhamento, o questionamento a respeito dos números do governo é legítimo, pois o peronismo tem um histórico de maquiagem de indicadores econômicos.

Entre 2007 e 2015, durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, ocorreu uma intervenção no Indec para manipular os dados da inflação, da pobreza e do Produto Interno Bruto (PIB) na Argentina.

O jornal Clarín citou, por exemplo, que o instituto apontou uma inflação de 8,7% em 2007, enquanto consultorias privadas indicaram que a variação de preços naquele ano ficou entre 16 e 18%. Indignada, a oposição lançou em 2011 uma medição paralela da inflação mês a mês.

O momento mais constrangedor veio em 2013, quando o então ministro da Economia, Axel Kicillof, cancelou o cálculo oficial da pobreza sob o argumento de que “medir a pobreza é estigmatizante”.

Como esperado, essa manipulação gerou uma onda de desconfiança internacional sobre a situação econômica argentina. Em 2013, o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu uma declaração de censura contra o país devido à inconsistência nas suas estatísticas.

Fundos de investimento dos Estados Unidos e do Reino Unido ingressaram com ações judiciais por se sentirem afetados pela manipulação dos dados do PIB argentino.

A divulgação dos dados da inflação do Indec, na próxima semana, pode indicar se o peronismo aprendeu a lição ou se segue fazendo mágica com os números.

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