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Ásia e Oceania

Daniel Suidani: conheça o político das Ilhas Salomão que a China tentou subornar e destruir, sem sucesso

Influência da China no Pacífico
Ilhas Salomão: ex-governador Daniel Suidani denuncia suborno chinês e influência política. Removido após desafiar interesses chineses, busca apoio dos EUA. (Foto: YouTube/China Uncensored)

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As Ilhas Salomão são um pequeno país do sudeste do Pacífico com menos de 800 mil habitantes. Foram um protetorado britânico até sua independência, em 1978, mas mantiveram o rei Charles III como chefe de Estado. O arquipélago raramente chega ao noticiário de política, mas tem uma posição geográfica estratégica, já usada pelo Japão na II Guerra Mundial contra os EUA. Este ano, as Ilhas Salomão renovam sua relevância por causa de um político e sua resistência à influência do Partido Comunista Chinês na região.

Daniel Suidani foi governador (premier) da província de Malaita, a mais populosa do país, de junho de 2019 até fevereiro de 2023. Ele foi removido do cargo por um voto de não-confiança dos parlamentares locais. Ele diz que a razão disso é que ele desafiou interesses econômicos de chineses no país.

“Para eles, parece que é uma coisa normal vir ao meu escritório com um monte de dinheiro”, diz Suidani sobre os empresários chineses, a quem ele acusa de tentativa de suborno. “Uma vez, fechei uma loja chinesa na minha província por não seguir o protocolo para operar no local, e eles me deram um monte de dinheiro, dizendo ‘esse dinheiro é para você e as suas crianças, para permitir que nossos negócios continuem, para que possamos dar mais emprego para o seu povo’”. A entrevista foi concedida à RFA (Radio Free Asia, financiada pelo governo dos EUA) na terça passada (2).

O valor da propina oferecida e recusada teria sido de US$ 120 mil (R$ 594 mil). Foram três moções de não-confiança avançadas contra o político até uma funcionar. O apoio popular foi substancial nas primeiras duas tentativas, porém, na terceira, “o governo central usou barcos de patrulha, armas de fogo e a polícia para acalmar os manifestantes”, explica Suidani. “Antes [da votação] da moção, a polícia fechou as estradas. Agora, ninguém na província tem coragem de se manifestar pela democracia, pela liberdade”.

A RFA tentou falar com a embaixada da China nas Ilhas Salomão e com o gabinete do primeiro-ministro Manasseh Sogavare, ambos não responderam a e-mails e ligações telefônicas. Sogavare já assinou um pacto de segurança com a China, com aplicações militares.

Histórico da antipatia

Suidani pensa que a influência política e financeira de Pequim está minando a democracia e a liberdade de imprensa em seu país. Uma grande mudança diplomática foi em 2019, quando Sogavare abandonou Taiwan como representante da cultura chinesa, preferindo o governo do Partido Comunista do continente.

Ainda governador de Malaita, Suidani pôs-se em ação: sob sua liderança, a assembleia da província se opôs ao reconhecimento de Pequim pelo governo central e baniu projetos financiados pelos comunistas na província. Foi uma medida controversa, já que Malaita precisava do dinheiro com suas estradas, pontes e sistema de saúde em mau estado. As reclamações foram imediatas: Glen Waneta, membro da assembleia da província, reclamou em outubro passado que o governo local deveria aceitar as torres de celular da Huawei, gigante chinesa da tecnologia.

Suidani diz que foi com a tecnologia que a China comprou a mídia local. Um veículo midiático da capital Honiara teria em sua sede um oficial chinês instalado para assegurar que a cobertura é amena às metas de propaganda do regime de Xi Jinping. “As notícias não têm sido neutras... Dão informações enviesadas, tudo na primeira página é sobre a China”, explica o ex-governador. Ele foi substituído pelo atual governador Martin Fini, que já se encontrou em março, um mês após a saída de Suidani, com o embaixador chinês Li Ming.

Viagem aos EUA quase barrada pelo governo Biden

Em 2021, com uma dor de cabeça crônica, Daniel Suidani buscava um tratamento médico. Segundo publicações locais como The Island Sun, ele estava em risco de vida. O governo solomonense teria dificultado o acesso. O político foi socorrido pela presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, que ofereceu tratamento em Taiwan.

Em abril de 2023, após o sucesso da campanha para derrubar o governador, o governo de Sogavare também cassou seu cargo como parlamentar. Segundo a jornalista Cleo Paskal, que publicou uma carta do governo a Suidani, as razões dadas para a cassação incluíam “recusa contínua a reconhecer a Política da China Única”, ou seja, a obsessão de Pequim de que Taiwan, nunca governada pelo Partido Comunista, não é soberana, e “conluio com Taipei”.

“Pense nisso”, comentou Chris Chappell, âncora do canal anti-PCCh China Uncensored: “um oficial democraticamente eleito foi purgado porque a China exigiu isso”. Em 2021, o jornal Solomon Star, alinhado com o governo, acusou Suidani de participar de um complô com o governo dos EUA para assassinar o primeiro-ministro Sogavare. O autor do artigo contendo a acusação foi o vice-presidente da “Associação de Amigos da China das Ilhas Salomão”.

O canal abriu uma campanha no site de doações GoFundMe para enviar o político solomonense e seu assessor para Washington D.C. para que pudessem alertar o governo americano a respeito das atividades da ditadura comunista em seu país. Em apenas um dia, os fundos foram arrecadados. O site, contudo, bloqueou as doações, cedendo após o canal reclamar nas redes sociais.

O Departamento de Estado americano negou o visto para a viagem de Suidani inicialmente, mas cedeu após pressão de parlamentares dos dois principais partidos dos EUA. O político foi enfim recebido no país, onde participou de conversas públicas em instituições como a Universidade Georgetown e a Heritage Foundation. “Queremos ajuda contra o PCCh, queremos sentir que temos liberdade, mesmo que venhamos de um país pequeno”, disse o líder solomonense em entrevista ao China Uncensored no último sábado (6).

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