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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou "a posição monopolista" das grandes empresas do setor de tecnologia e questionou o poder dessas companhias de regular a disseminação de informações na internet. Os comentários foram feitos em meio à intensificação do debate sobre o tema, na esteira da decisão do Twitter de suspender permanentemente a conta do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Em discurso durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que este ano ocorre em formato virtual por causa da pandemia, Putin não mencionou os recentes protestos em seu país ou o líder opositor Alexei Navalny, que está preso em Moscou. Enquanto a comunidade internacional pressiona a Rússia para a libertação de Navalny, Putin preferiu focar o seu discurso em críticas às redes sociais, a principal arma de seu maior crítico, que há anos usa essas mídias para denunciar supostos atos de corrupção do governo russo.
Os protestos em massa em cidades na Rússia na semana passada, em que milhares de manifestantes foram presos, foram incentivados também por um novo vídeo divulgado pelo grupo de Navalny, que acusa Putin de ter construído um palácio secreto bilionário, e que teve grande alcance nas redes sociais.
Putin afirmou que as gigantes do Vale do Silício atuam como "concorrente do Estado" e citou o papel exercido por elas durante a campanha eleitoral americana no ano passado.
"Onde está o limite entre os negócios globais bem-sucedidos, os serviços necessários, a consolidação dos indicadores macroeconômicos e as tentativas de controlar grosseiramente, usando seu arbítrio, a sociedade, de substituir os institutos democráticos legítimos e usurpar ou limitar os direitos naturais da pessoa de decidir como viver, o que escolher, qual opinião expressar livremente?", questionou o presidente russo, em sua primeira aparição no fórum desde 2009.
O censor estatal da Rússia disse que iria impor multas a redes sociais como TikTok, Facebook e Twitter, caso não removessem vídeos com convocações aos protestos, que descreveu como "eventos públicos não autorizados".
O líder russo também comentou mudanças estruturais na sociedade provocadas pela emergência do coronavírus. Na visão dele, a pandemia agravou os desequilíbrios e disparidades socioeconômicas em todo o mundo. "Nós falamos disso antes, mas hoje isso gera uma polarização repentina das visões sociais, provoca o crescimento do populismo, do radicalismo de direita e de esquerda e outros extremismos ", destacou, comparando o contexto atual com o quadro nos anos 30 do século passado.
Para Putin, o Estado deve agir para atenuar os impactos da crise com estímulos fiscais através do aumento das despesas dos governos, além de apoio monetário por meio dos bancos centrais. "É preciso fazer esforços reais para reduzir desigualdades sociais", defendeu.
O presidente russo argumentou ainda que multinacionais europeias e americanas desfrutaram benefícios desproporcionais da globalização nas últimas décadas. "Se falarmos do lucro das empresas, quem ficou com os ganhos? A resposta é conhecida e óbvia, 1% da população mundial. Em diversos países desenvolvidos a renda de mais da metade dos cidadãos ficou estagnada", analisou.
Sobre a prorrogação do Tratado Novo Start, que limita os arsenais nucleares de EUA e Rússia, Putin disse que a iniciativa é "um passo na direção correta".
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