O ex-presidente Lula com o presidente da Síria, Bashar Assad, durante encontro em Brasília em 2010| Foto: Evaristo Sá/AFP

As intenções manifestadas pela diplomacia brasileira de intervir nas negociações com o governo da Síria despertam questionamentos sobre o papel do Brasil na mediação de crises internacionais.

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Depois de dois meses de impasse diplomático, o Conselho de Se­­gurança da Organização das Na­­ções Unidas (ONU) finalmente che­­gou a um consenso e aprovou na última quinta-feira um documento que condena as ações do governo Sírio, como as violações dos di­­reitos humanos. Na última quinta-feira, o site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil informava que "com articulação brasileira, Conselho de Segurança aprova declaração contra violência, mas não impõe sanções a Assad".

Para Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Uni­­curitiba), o documento não de­­monstra tanta rigidez com o regime de Bashar Assad. "Essa resolução não condena totalmente o re­­gime, condena os dois lados e não tem consequências militares".

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Traumann acredita que o prin­­cipal interesse do Brasil ao se en­­volver nesse tipo de negociação é um assento permanente no Con­­se­­lho de Segurança da ONU. Mas, na opinião dele, é a Índia quem tem mais probabilidade de receber o apoio das grandes po­­tên­­cias. A declaração do Con­­se­­lho de Segurança ao governo sírio foi lida pelo embaixador indiano, Harde­­ep Singh Puri, que ocupa a presidência do Con­­selho neste mês.

Se o Brasil não tem posição de destaque nas negociações com a Síria, quando teve no passado não atingiu os objetivos que pretendia. Em 2010, a tentativa de acordo nuclear com Irã, articulada pelo Brasil e Turquia, não se consolidou. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, acabou por não cumprir o combinado com Lula e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, e confirmou a expectativa das grandes potências.

"A comunidade internacional olhava a participação brasileira nas negociações como uma aberração", diz o professor do Unicuri­­tiba. Para ele, no âmbito internacional o Brasil só tem crédito em mediações na América Latina.

Por outro lado, de acordo com o professor de Direito Interna­­cional da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Luiz Alexandre Carta Winter, a tentativa frustrada de negociações políticas com o Irã resultou em lucros para o Brasil. "Não podemos pensar somente em termos políticos. Essa relação possibilitou ao Brasil vender carne para o Irã e a Turquia abriu mais o mercado para os brasileiros", diz.

Sobre a efetividade da influência do Brasil em negociações como a da Síria, Winter acha que o Bra­­sil não tem grande peso. Ainda as­­sim, o país deve insistir em participar dessas mediações diplomáticas. "Somos potência regional, não temos força de dissuasão. Mas se o Brasil pretende se firmar como potência mundial tem que ocupar esses cenários".

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Na opinião do professor de Direito Internacional da PUCPR e da faculdade Unibrasil Eduardo Gomes, o resultado das negociações na Síria não se refere tanto à influência que o Brasil ou qualquer outro país possa ter, mas à postura do próprio governo sírio. "Quando falamos em relações in­­ternacionais, trabalhamos com países soberanos. Os mediadores podem propor soluções, mas de­­manda depende da boa vontade política dos demais estados envolvidos".