A pouco mais de três meses das eleições gerais na Alemanha, a atenção já se volta para a maior economia da zona do euro e para o que deve ocorrer com a coalizão da chanceler Angela Merkel, tradicional defensora da austeridade no bloco.
Nesse início de campanha, duas novidades vêm ganhando destaque: o ajuste no rígido discurso pró-austeridade que Merkel vinha adotando em relação a outros países e a ascensão do debate sobre o euro, intensificado pela criação de um partido antieuro no país. O cenário indicado pelas últimas pesquisas eleitorais, no entanto, é de que Merkel não teria maioria no Parlamento se as eleições fossem realizadas hoje.
A crise na zona do euro não tem prejudicado a popularidade da chanceler. Na verdade, proteger a Alemanha de tumultos externos, enquanto aparenta estar no controle da situação, tem sido a receita de Merkel para ter sucesso político em casa. Sua coalizão conservadora, composta pela União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), tem o maior apoio popular entre os partidos políticos, com aprovação de 42% do eleitorado, segundo os mais recentes levantamentos. Com esse porcentual, Merkel teria de governar com a esquerda para ter maioria no Parlamento.
A favor
Para analistas do banco francês BNP Paribas, os problemas econômicos no bloco podem até mesmo ajudar a chanceler. "Se a crise na zona do euro desaparecer de vista, todos os olhos vão se voltar para a reforma doméstica alemã. E esse é o ponto fraco de Merkel, uma vez que suas ideias no âmbito doméstico deixam a desejar. Merkel precisa de mais ênfase na zona do euro para garantir que os alemães não considerem a ideia de experimentar algo novo, como um governo de esquerda", diz o relatório divulgado pelo banco.
Considerando os últimos dados econômicos da Alemanha, parece estratégico para a chanceler manter o foco dos eleitores na crise da região. O país evitou por pouco uma recessão no primeiro trimestre deste ano, com crescimento de 0,1% da economia em relação aos três últimos meses de 2012. Já em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a economia teve contração de 0,2%. A taxa de desemprego alemã tem se mantido estável em 6,9% nos últimos dois meses, mas o número de pessoas em busca de trabalho no país vem subindo.
Para Klaus Segbers, cientista político da Universidade Freie, em Berlim, o cenário econômico da Alemanha é bom na comparação com outros países do bloco, o que pode favorecer a campanha de Merkel. "O cenário econômico comparativamente bom da Alemanha certamente estará no lado positivo do atual governo alemão, mesmo sendo devido principalmente às reformas elaboradas pelo governo de (Gerhard) Schröder", afirma.
Campanha
Merkel já está em campanha, e com novo discurso. A chanceler vem ajustando sua rígida postura pró-austeridade e adotando uma posição mais flexível em relação aos países do sul europeu atingidos pela recessão, apesar de sua inflexibilidade ter sido um dos principais motivadores da sua popularidade na Alemanha. "A política fiscal não é tudo", disse ela em Berlim, durante visita do primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta. "Fazemos política para as pessoas e as pessoas querem empregos." A mensagem é radicalmente diferente da utilizada por Merkel desde que a crise de dívida eclodiu, há três anos. O governo alemão vinha frisando que países como Grécia, Portugal e Espanha só poderiam reconquistar a confiança dos mercados se tivessem disciplina para reduzir déficits e dívidas.