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Guerra no leste europeu

De um inverno para o outro, Ucrânia vai da esperança ao pessimismo

Soldados ucranianos no front em Donetsk, no leste da Ucrânia (Foto: EFE/EPA/YAKIV LIASHENKO)

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O inverno no Hemisfério Norte começa nesta sexta-feira (22), e em um ano o estado de espírito da Ucrânia a respeito da guerra travada contra a Rússia mudou muito.

Em dezembro de 2022, às vésperas do primeiro inverno do conflito (a guerra havia começado em fevereiro), a Ucrânia sofria com os bombardeios russos à sua infraestrutura, com o objetivo de deixar o país invadido sem energia durante os meses mais frios do ano e forçar uma rendição – o que acabou não acontecendo.

O otimismo ucraniano por uma vitória, apesar das dificuldades, era alimentado pela continuidade da ajuda militar dos aliados do Ocidente. Em um ano, esse apoio perdeu força – o que, aliado a reveses dolorosos, como a perda de Bakhmut e os resultados bem abaixo do esperado da contraofensiva lançada no último verão europeu, faz o novo inverno ucraniano parecer bem mais sinistro que o anterior.

A diferença entre os dois momentos pode ser ilustrada pelas visitas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, aos Estados Unidos. Em dezembro do ano passado, ele foi recebido e discursou numa sessão conjunta no Congresso americano. A oposição republicana já falava de interromper a ajuda militar à Ucrânia, mas à época, essa posição era mais tímida dentro do partido.

Este mês, Zelensky voltou aos Estados Unidos. Reuniu-se novamente com o presidente Joe Biden, mas no Congresso americano, conseguiu apenas reuniões a portas fechadas para solicitar mais apoio à Ucrânia.

Biden vem pedindo ao Congresso americano, sem sucesso, que aprove um pacote suplementar de US$ 106 bilhões, incluindo US$ 61 bilhões para a Ucrânia e US$ 15 bilhões para Israel. Os republicanos resistem à proposta porque querem aumento do controle migratório na fronteira sul dos Estados Unidos.

Na última segunda-feira (18), o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, disse que um pacote a ser liberado para a Ucrânia no final de dezembro será o último se o Congresso não aprovar verbas adicionais.

Desde o início da invasão russa, o Legislativo americano aprovou US$ 113 bilhões em ajuda nas áreas de defesa, econômica e humanitária à Ucrânia, dos quais US$ 46,6 bilhões foram ajuda militar direta.

Além do impasse americano, a Ucrânia perdeu recentemente o apoio militar da Polônia e da Eslováquia, que cortaram a ajuda a Kiev. Para piorar, na semana passada a Hungria de Viktor Orbán, amigo da Rússia, bloqueou um pacote de ajuda financeira da União Europeia de 50 bilhões de euros à Ucrânia.

Outro contratempo é que a atenção do mundo se voltou para a nova guerra no Oriente Médio, iniciada em outubro.

“A Rússia teve alguns sucessos no campo diplomático, e isso é um fato porque alguns países começaram a pensar em quem deveriam priorizar em seu apoio, se Ucrânia ou Israel”, afirmou Zelensky em uma coletiva de imprensa na terça-feira (19). “Definitivamente, isso não tem um impacto positivo sobre a Ucrânia”, acrescentou.

Nos meses mais frios do ano, as ações militares se tornam mais difíceis, e o pessimismo do lado ucraniano aumenta porque analistas projetam que, com a proximidade de uma nova eleição presidencial russa, Vladimir Putin vai querer aumentar a ofensiva para ter mais “feitos” para vender na campanha do pleito que será realizado em março.

“A paz chegará quando a Rússia atingir os seus objetivos”, declarou o presidente russo na semana passada.

Richard Barrons, general reformado do Exército britânico, disse em entrevista à Associated Press que os ucranianos “veem o que está acontecendo no Congresso americano e o que aconteceu na União Europeia” e enxergam um cenário mais hostil.

“A razão pela qual os ucranianos estão pessimistas é porque agora eles sentem que não só não se saíram bem [na guerra] este ano, como sabem que o jogo está a favor dos russos”, afirmou.

A grande esperança da Ucrânia é que os sonhados caças F-16, prometidos pelo Ocidente e que só devem começar a ser usados na guerra em 2024, finalmente ajudem a nivelar o confronto no espaço aéreo. A Noruega, a Dinamarca e a Holanda se comprometeram a enviar F-16s aos ucranianos, mas o número total ainda é incerto.

Nesta semana, Zelensky disse que outros planos para 2024 são mobilizar até 500 mil soldados a mais e produzir 1 milhão de drones para uso na guerra. Porém, como a primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, disse à BBC em entrevista no início de dezembro, a Ucrânia não chegará a lugar algum sem ajuda externa.

“Precisamos muito de ajuda. Deixando bem claro, não podemos nos cansar desta situação, porque se o fizermos, morreremos. E se o mundo se cansar, simplesmente nos deixará morrer”, afirmou.

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