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Manifestante palestino corre para escapar de bombas de gás lacrimogênio durante um protesto contra israelenses na vila de Bilin, perto de Ramallah, em 2009 | Abbas Momani/AFP
Manifestante palestino corre para escapar de bombas de gás lacrimogênio durante um protesto contra israelenses na vila de Bilin, perto de Ramallah, em 2009| Foto: Abbas Momani/AFP

Sem liberdade

Controle da imprensa é antigo

Amnon Dankner, ex-editor do jornal Maariv e jornalista veterano, afirmou que a ameaça ao Canal 10 o preocupava profundamente.

"Pela primeira vez, temo o fim das notícias críticas e investigativas como conhecemos em Israel", ele disse. "Se o Canal 10 fechar, o Canal 2 vai ficar ainda mais domado. Desde a infância, eu sentia que a liberdade de imprensa estava avançando aqui. Agora, parece que está retrocedendo."

Todavia, outros jornalistas afirmam que a única coisa que mudou é quem está no poder. Os primeiros-ministros do Partido Trabalhista como David Ben-Gurion, Golda Meir e Yitzhak Rabin também controlavam a imprensa, reunindo-se com editores seniores regularmente.

"Quando o primeiro-ministro era ‘um de nós’, parecia totalmente natural que ele silenciasse suas críticas", escreveu recentemente Ari Shavit, colunista do jornal Haaretz.

Nahum Barnea, principal colunista político do jornal Yediot Aharonot, afirmou que, embora o problema do Canal 10 tenha a ver com um negócio falido, também faz parte da disputa pelo discurso público no Parlamento.

"Muitas das leis propostas possuem um denominador comum", ele disse. "As pessoas da coalizão acham que é hora de mudar as regras – em relação aos palestinos, ao setor árabe de Israel, à esquerda e à mídia. A historia do Canal 10 é parte disso. E se ficarmos com apenas um canal comercial, seremos uma democracia mais fraca."

Canal expôs meandros da Guerra do Líbano

Além de enfurecer o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Canal 10 ganhou a antipatia também de líderes anteriores, desempenhando um papel fundamental na exposição de como foi conduzida a guerra do Lí­­ba­­no, em 2006, e divulgando suspeitas de acordos corruptos en­­volvendo terras na família do ex-­­primeiro-ministro Ariel Sha­­ron.

O canal mostrou a situação de um médico palestino em Gaza, cujas três filhas foram mortas por forças israelenses na guerra ocorrida ali em 2008-2009, e mostrou um ministro do partido nacionalista Yisrael Beiteinu chegando à casa de uma mulher suspeita de ser sua amante e deixando a casa na manhã seguinte.

"Se nós deixarmos de existir, a mensagem será clara: se você tem coragem de abrir uma em­­presa de notícias que faz críticas, irá à falência", afirmou Raviv Drucker, principal repórter in­­vestigativo da estação, responsável pela matéria sobre as viagens de Netanyahu.

Um executivo do Canal 10, que falou sob a condição de anonimato, afirmou que um auxiliar de Netanyahu disse que, se Drucker tirasse férias por tempo indeterminado, o adiamento das dívidas seria muito mais fácil.

O gabinete de Netanyahu ne­­gou que essa conversa tivesse ocorrido.

Em anos anteriores, Neta­­nyahu chegou a intervir para salvar o Canal 10 duas vezes, pois afirmou que é a favor de aumentar as redes de notícias para ex­­pandir o mercado de ideias e de­­bates.

Fox News

A mídia israelense, como re­­clamam ele e seus auxiliares, pende para a esquerda, e o que o país precisa é de uma versão israelense da Fox News (emissora nor­­te-americana conhecida por suas posições conservadoras).

Algumas pessoas afirmam que era isso que Netanyahu acha­­va estar ajudando a criar quando, há cinco anos, persuadiu seu amigo, o bilionário americano Ronald S. Lauder, a investir no enfermo Canal 10. Mas a estrutura do canal dificulta que os do­­nos intervenham em seu con­­teú­­do.

Entretanto, depois da exibição da matéria sobre as viagens de Netanyahu, o primeiro-ministro esfriou sua amizade com Lauder, que se recusou a fazer comentários.

Outro dono do canal é o produtor de Hollywood Arnon Mil­­chan. O terceiro e maior acionista é Yossi Meiman, um liberal is­­raelense dono de um gasoduto do Egito que tem sido repetidamente explodido desde a revolução egípcia.

Um canal de televisão israelense exibiu, há quase um ano, uma reportagem sobre diversas viagens realizadas pelo então re­­cém-eleito Benjamin Netanyahu a Paris, Londres e Nova York antes de se tornar primeiro-ministro, em 2009.

Acompanhado da esposa, ele voou de primeira classe e se hospedou em luxuosas suítes de hotéis. Sua esposa frequentava o cabeleireiro e mandava seu guarda-roupa para a lavanderia. As contas, exibidas na tela, foram pagas por amigos abastados.

Viajar com luxo à custa de outros pode violar regras do funcionalismo público e a própria lei, e também pega mal. Mas, em vez de receber elogios por seu jornalismo, o Canal 10 hoje luta pa­­ra sobreviver, e a hostilidade de Netanyahu em relação à emissora está sendo lançada como parte de uma guerra cultural e política mais ampla em Israel entre a esquerda e a direita, envolvendo esforços para controlar o judiciário, a divulgação de notícias e o discurso público.

Trata-se de uma batalha que imediatamente coloca a coalizão direitista governante contra a elite liberal à medida que o governo se recusa a adiar a dívida do ca­­nal, o que poderia obrigá-lo a fe­­char.

"A briga envolvendo o Canal 10 é, em parte, uma vingança.Netanyahu quer fazê-los pagar pelo que fizeram com ele", argumentou Nachman Shai, membro do parlamento do partido oposicionista Kadima e ex-executivo de mídia que ajudou a criar o Canal 10 há uma década.

"Mas também faz parte de uma luta de três frentes – envolvendo os tribunais, a sociedade civil e a mídia. A direita quer controlar todas as instituições. A li­­ber­­dade de imprensa está em ris­­co."

As pessoas ao redor de Neta­­nyahu, que entraram com um pro­­cesso de calúnia contra o canal, da ordem de US$ 1 milhão, afirmam que o Canal 10 é uma empresa falida cujas dívidas já foram perdoadas inúmeras vezes e que está se escondendo atrás de queixas políticas e preocupações exageradas quan­­to à liberdade de expressão para fazer o público absorver suas dí­­vidas.

À primeira vista, o pedido que o Canal 10 faz é modesto. Ele de­­ve US$ 11 milhões, a maior parte desse valor a um órgão regulador oficial, e o restante em impostos. Ayelet Metzger, vice-diretora ge­­ral do órgão regulador, afirmou que sua agência e o ministério das Finanças tinham concordado em adiar a dívida por um ano.

No entanto, um comitê parlamentar votou contra isso em de­­zembro. A coalizão de Neta­­nya­­hu obrigou seus membros a votarem contra. Isso significa que o Canal 10 irá, em teoria, fechar as portas no fim deste mês, quando termina sua franquia de dez anos.

Na prática, haverá uma batalha para salvá-lo devido à crença de que o canal desempenha um papel fundamental no debate público, com suas transmissões de notícias investigativas e cruzadistas.

A única outra rede independente é o Canal 2, que também está enfrentando dificuldades econômicas.

Entretanto, Netanyahu possui uma forte influência sobre outros veículos de mídia: o estatal Canal 1, uma rádio estatal e um jornal de sucesso distribuído gratuitamente, o Yisrael Hayom, de propriedade de um amigo americano de Netanyahu, o bilionário Sheldon Adelson.

O presidente Shimon Peres interveio, afirmando que o esforço do canal para sobreviver é "uma luta pelo caráter democrático de Israel".

Num comentário relacionado, ele também se declarou "en­­vergonhado" pelos diversos projetos de lei considerados no Par­­lamento que, segundo ele, afastam a democracia em Israel: uma lei antidifamação, outra que si­­lencia alto-falantes com chamados à oração para os muçulmanos, e outra que impede go­­vernos estrangeiros de financiar grupos de esquerda em Israel.

No verão passado, o Parla­­mento aprovou uma lei tornando possível processar qualquer pessoa que defenda o boicote a produtos de Israel, incluindo as­­sentamentos da Cisjordânia.

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