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Eleição nos EUA

Debates revelam caráter e intelecto de pré-candidatos

Pré-candidatos do Partido Republicano durante o debate da última quinta-feira, em Jacksonville, na Flórida. A partir da esquerda, Rick Santorum, Newt Gingrich,  Mitt Romney e Ron Paul | AFP/ Joe Raedle
Pré-candidatos do Partido Republicano durante o debate da última quinta-feira, em Jacksonville, na Flórida. A partir da esquerda, Rick Santorum, Newt Gingrich, Mitt Romney e Ron Paul (Foto: AFP/ Joe Raedle)

Deslizes morais, segredos fiscais, contradições e excessos dos pré-candidatos do Partido Republi­­cano à Presidência dos EUA são expostos nos debates transmitidos pela televisão. O curioso é que essas discussões, que estão conquistando cada vez mais espaço na mídia americana (e estrangeira), servem apenas para a escolha de um candidato que vai enfrentar Barack Obama em novembro.

Na última quinta-feira, o site da CNN publicou um artigo do co­­lunista John Avlon em que é destacado o fato de os candidatos es­­tarem diante de seus concorrentes e serem julgados pelo "conhecimento prático da política e sua capacidade de pensar e falar por si mesmos". Avlon acrescenta: "É um bom teste de coragem presidencial – e o caráter é revelado, assim como o intelecto, ao longo dos debates".

A Gazeta do Povo entrevistou pesquisadores de política dos EUA sobre a importância desses debates. O analista político João Au­­gusto de Castro Neves, da Eurasia consultoria em Washington, diz que há temas polêmicos que os candidatos até conseguem contornar durante a campanha, mas, quando chegam aos encontros com seus rivais, precisam declarar suas posições. "Por mais caótico que seja, o sistema das prévias incentiva o debate", diz Neves, ao lembrar que a participação dos eleitores na escolha do candidato do partido alimenta o embate entre os republicanos.

O cientista político Ole Holsti, da Universidade de Duke, nos EUA, considera que os debates costumam ser mais decisivos para eliminar candidatos, como no caso de Rick Perry, que abandonou a corrida. "Ele foi muito mal nos debates. Quase todos que assistiram tiveram sérias dúvidas sobre sua real capacidade de ser um forte candidato presidencial", diz Holsti.

Espetáculo midiático

Na semana passada, o jornal The New York Times publicou uma re­­portagem em que descrevia o clima nos bastidores dos debates. Mi­­nutos antes do início da transmissão na Carolina do Sul, no dia 21, um apresentador pediu ao pú­­blico que demonstrasse mais en­­tu­sias­mo, conforme descreve o jornal.

Minutos depois, o debate co­­meçaria com uma pergunta sobre a vida pessoal de Newt Gingrich. A sua ex-esposa, Marianne Gin­­grich, havia feito declarações à rede de televisão ABC em que afirmava que o candidato, notório por ser muito conservador, propôs a ela um casamento aberto a fim de manter relações com a en­­tão aman­­te (e atual esposa) Cal­­lista Bisek.

Gingrich ficou furioso com a escolha da CNN de começar o de­­bate com ataques pessoais e recebeu o apoio da plateia com aplausos. Esse tipo de pergunta pode ser considerado golpe baixo, mas é interessante observar a reação de Gin­­grich e lembrar que ele liderou a campanha pelo impeachment de Bill Clinton como punição ao caso com a estagiária Monica Lewinsky. No entanto, o lembrete do falso moralismo de Gingrich no debate parece não ter abalado sua campanha, já que ele saiu vitorioso na Carolina do Sul.

O professor de Ciência Política Mark Miller, da Universidade de Delaware, nos EUA, conta que pre­­fere jogos de basquete aos debates do Partido Republicano. Amigos de Miller que estão acompanhando os encontros políticos com mais frequência os definem como "espetáculo". "O Estado da política americana é muito triste. Como a maioria das pessoas, eu acho deprimente essa situação [atual]", diz o acadêmico.

Na última quinta-feira, em Jack­­sonville, na Flórida, Mitt Romney conseguiu se destacar e, de acordo com analistas, saiu do debate me­­lhor do que Newt Gingrich, que ficou mais na defensiva. O desempenho de Romney foi considerado uma reação à derrota na Ca­­rolina do Sul e um novo impulso para as primárias da Flórida, na próxima terça-feira.

Como agora são apenas prévias, é bom que o rival de Barack Obama se prepare. O professor Hols­­ti diz que, nas eleições presidenciais, os debates são ainda mais determinantes e lembra: "John Kennedy se saiu muito me­­lhor que Richard Nixon em 1960 e isto provavelmente foi decisivo".

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