Bagdá Milhares de curdos participaram de manifestações ontem, no norte do Iraque, contra a autorização que o Parlamento da Turquia deu ao Executivo do país para que invada o vizinho do sul. Os manifestantes, que chegaram a mais de 5 mil em Dahuk, uma das cidades curdas iraquianas, pediram que seja mantida a paz na região.
A decisão do Parlamento turco, tomada na quarta-feira, visa autorizar o combate, em território iraquiano, a milicianos do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O grupo é considerado terrorista por Ancara e luta pela independência da região sudeste da Turquia, predominantemente curda, onde promove ataques. Os membros do PKK têm recebido abrigo e apoio nas áreas curdas no norte do Iraque.
O voto parlamentar provocou pedidos de contenção tanto do governo iraquiano quanto de Washington. Mas a iminência de uma incursão militar significativa da Turquia no Iraque, que colocaria em confronto as forças de dois países pertencentes à Otan EUA e a própria Turquia-, é descartada por diplomatas.
Um ataque da Turquia ao norte do Iraque seria má notícia para os EUA, que já encontram dificuldades para estabilizar outras regiões do país e que não precisavam até então se preocupar tanto com o norte, região mais tranqüila. Mas ontem a própria Chancelaria turca afirmou que sua prioridade é uma "saída diplomática.
Nacionalismo
A autorização do Parlamento turco à invasão, cuja validade é de um ano, é parcialmente explicada como a resposta a uma inquietação popular quanto ao fato de os EUA não estarem agindo para impedir os ataques do PKK no território turco, os quais deixaram nas últimas semanas mais de 20 mortos.
Outro fator que pode ter pesado no voto do Parlamento foi a decisão de uma comissão da Câmara dos EUA de qualificar como genocídio o massacre que a Turquia perpetrou contra cerca de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial.
A decisão dos congressistas americanos cuja votação em plenário acabou depois sendo virtualmente descartada foi considerada um insulto ao sentimento de nacionalismo turco e se somou às tensões entre Washington e o governo islâmico em Ancara visto internamente com desconfiança pelos militares laicistas.
Declaração
Ontem, o ministro da Justiça da Turquia sugeriu que o presidente dos EUA, George W. Bush, está sendo hipócrita ao exigir que seu país não invada o Iraque em perseguição a terroristas curdos que usam bases no norte iraquiano para atacar alvos em território turco.