O apoio de Barack Obama ao casamento gay, declarado na quarta-feira, foi, para todos os efeitos, um ponto crucial. Um presidente dos EUA no poder escolheu um lado no que muitos consideram ser o último movimento pelos direitos civis, o que nos dá a mais poderosa prova até agora do quão rapidamente os pontos de vista estão mudando no que diz respeito a um assunto que era politicamente tóxico não mais do que cinco anos atrás.
Obama enfrenta um risco considerável de entrar de cabeça nesse debate, de modo relutante ou não, no calor do que se espera que seja uma votação acirrada.
Mitt Romney, o provável candidato presidencial republicano, foi rápido em proclamar sua oposição ao casamento gay após a fala de Obama. E, por mais que as atitudes da nação estejam mudando, o problema permanece ainda um grande motivo de disputa entre eleitores negros e latinos, dois grupos centrais para o sucesso de Obama.
O próprio risco daquilo que Obama fez dificultou a compreensão da significância histórica daquilo que aconteceu na Casa Branca na quarta-feira.
"Se você for um daqueles que se importam com essa questão, você não esquecerá onde estava quando viu o presidente afirmar aquelas palavras", disse Chad Griffin, futuro presidente da Campanha por Direitos Humanos, um grupo ativista gay. "Não importa a sua idade, é a primeira vez que você vê um presidente dos Estados Unidos olhar para a câmera e dizer que um indivíduo gay deve ser tratado de modo igualitário perante a lei. A mensagem que isso manda para um jovem gay ou transgênero que sofre para se assumir é algo que muda sua vida".
Faz apenas 16 anos desde que Bill Clinton o segundo candidato presidencial democrata a fazer campanha para um público gay num evento aberto para a mídia assinou o Ato de Defesa ao Casamento, que definia o casamento como a união de um homem e uma mulher, dando permissão aos estados de recusar a reconhecer casamentos homossexuais conduzidos em outros estados.
Clinton defendeu a lei no meio de uma campanha de reeleição após seus assistentes concluírem que opô-la poderia ser arriscado. Clinton disse mais tarde que se arrepende dessa decisão; Obama instruiu seu Departamento de Justiça a não defender o ato.
De certo modo, Obama já chegou atrasado na discussão. Biden foi o último democrata proeminente a anunciar seu apoio, e muitos agora dizem ser impensável que até 2016 qualquer candidato presidencial sério do Partido Democrata se oponha ao casamento gay.
As pesquisas indicam um aumento constante da porcentagem de americanos que afirmam apoiar o casamento gay ou a parceria doméstica: eles são uma maioria agora. Os números são particularmente altos entre os americanos mais jovens, o que sugere que isso é uma onda mais provável de crescer do que de diminuir.
Tudo isso sugere que há, além dos riscos, um claro potencial de vantagens para Obama. Seu anúncio, embora simbólico e sem ter força de lei, poderia energizar grande parte de sua base eleitoral, entre os eleitores mais jovens, em particular, e fornecer uma garantia para os democratas liberais que têm se mostrado decepcionados com Obama nesse quesito. Isso, sem dúvidas, agradará ao público gay, que já está entre seus maiores doadores de campanha.
E o anúncio de Obama veio enquanto Romney estava tentando buscar uma mudança para uma posição mediana na discussão; eleitores independentes e mulheres são dois eleitorados que tendem a apoiar o casamento gay. Agora, no entanto, é quase certo que ele irá enfrentar pressões de sua base eleitoral para levar a luta do casamento gay para competir com Obama.
É possível que os cálculos políticos não serão aquilo de que as pessoas se lembrarão ao falar, no futuro, sobre a entrevista de Obama.
"Não acho que a questão seja de estados em particular, ou de um público-alvo em particular", disse Steve Elmendorf, estrategista democrata. "Ele disse a coisa certa", afirmou. "Ele fez a coisa certa."
Tradução de Adriano Scandolara.
Adam Nagourney, jornalista de política americana no New York Times
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