Começam a pesar sobre a Argentina as consequências das medidas protecionistas impostas pela presidente Cristina Kirchner, de acordo com analistas ouvidos pela Gazeta do Povo. E os piores efeitos parecem estar ligados ao controle de importações.
"Como 57% das empresas pequenas e médias estão com dificuldades para produzir por causa da falta de produtos [importados], os empregos começarão a ser afetados", diz Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudios Unión para la Nueva Mayoría, em entrevista por e-mail.
Nas últimas semanas, fábricas como a Toyota, em Zárate, e a Fiat, em Córdoba, tiveram de fechar e mandar funcionários para casa porque não tinham peças para alimentar a linha de montagem.
Segundo Fraga, nas relações exteriores, essa situação está causando o isolamento da Argentina, com três dezenas de nações incluindo a norte-americana e as europeias denunciando o país latino-americano por violar acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mauricio Claveri, coordenador de Comércio Exterior da Abeceb, empresa de consultoria e análises econômicas em Buenos Aires, afirma que o governo argentino está conseguindo sustentar e inclusive aumentar o superávit comercial.
"Mas é certo que essas medidas têm custos", diz.
O verdadeiro problema da Argentina é fiscal, explica o jornalista Márcio Resende, correspondente do jornal argentino Clarín. Diz ele: "O governo é incompetente para reduzir os gastos públicos". Críticos dizem que as medidas protecionistas podem ser uma forma de disfarçar esse monstrengo.
"Pode-se dizer que, politicamente, o governo já está maisww para Cristinismo do que Kirchnerismo", diz Fraga, numa referência ao projeto político de Cristina.
As decisões dela as brigas contra os jornais pelo controle do papel e contra os ingleses pelas Ilhas Malvinas, a estatização da petrolífera YPF-Repsol, o controle do dólar e as limitações aos produtos importados são, na opinião de Fraga, ações que se enquadram na proposta de aumentar a presença do Estado na economia e de reforçar o nacionalismo na política.