O processo contra o imã Fetulá Gülen, exilado pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, começou nesta quarta-feira (6) em Istambul, quando advogados do réu denunciaram um “linchamento” político.

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Instalado há mais de 15 anos nos Estados Unidos, Gülen é acusado, junto a dezenas de ex-policiais, de pertencer a uma organização terrorista e de imputar falsamente o governo de corrupção, o que, em dezembro de 2013, abalou a chefia de Estado do presidente islamita ultraconservador.

Ao fim da investigação, a promotoria de Istambul solicitou, contra o orador, a pena mais dura prevista pela lei turca, a prisão perpétua.

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Na ausência do religioso, o ex-chefe da polícia de Istambul, Yakup Saygili, e seu adjunto encarregado de assuntos criminais, Kazim Aksoy, chefe da investigação lançada em 2013, são os principais processados neste que é considerado um julgamento puramente político, para os que a promotoria também pede prisão perpétua. Dezenas de outros policiais também estão sendo processados.

Em sua acusação, o promotor pediu prisão perpétua para Gülen e penas de 7 a 330 anos para os outros 66 acusados.

Na abertura do processo, um dos advogados de Fetulá Gülen negou toda as acusações contra seu cliente.

“Não existem provas concretas de que meu cliente tenha participado de nenhuma atividade ilegal, nem um único documento” insistiu Nurulá Albayrak. “Jamais vimos uma investigação tão obscura na história de nosso país.”

“É uma vergonha que todas estas pessoas que não causariam mal a uma mosca sejam apresentadas como terroristas”, afirmou outro advogado, Murat Erdogan. “Isso está mais para um linchamento judicial.”

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Ironicamente, o defensor de Gülen citou inúmeras vezes a “rede de fraudes” supostamente montada por seu cliente no seio do Estado turco, que teria posto em perigo a República.

“Como os senhores podem ver, a ata de acusação mais se parece com um libreto de comédia, repleto de teorias conspiratórias e mitos, sem a menor prova que demonstre algum crime”, concluiu Albayrak.

‘Linchamento macartista’

Fomentador de um Islã moderado, o imã Gülen, de 74 anos, dirige uma vasta rede de escolas, ONGs e empresas de comunicação na Turquia, nas quais por muito tempo Erdogan se apoiou para firmar sua autoridade.

Mas o presidente declarou guerra pública ao religioso em 2013, convencido de que Gülen estivesse por trás das investigações anticorrupção contra ele, seus ministros e membros de sua família, entre eles seu filho Bilal; o que o religioso nega.

O escândalo provocou a demissão de quatro ministros e dominou as redes sociais, que reproduziram trechos de conversas muito comprometedoras do presidente e seu filho.

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Apesar disso, Erdogan conseguiu ganhar as eleições municipais em março de 2014 e, cinco meses mais tarde, ser eleito presidente.

Depois de uma disputa sem precedentes, particularmente na polícia e na justiça, o presidente turco conseguiu que todas as investigações sobre ele fossem tornadas sigilosas.

Desde então, realizou represálias sem precedentes contra partidários do imã e seus interesses financeiros, que resultaram em 1.800 prisões, segundo fontes ligadas ao governo.

“Hoje, ante o mundo inteiro, assistimos a uma campanha de linchamento contra um grupo de ativismo social que supera o macartismo -termo referente a uma acusação sem provas- nos Estados Unidos”, declarou à AFP Erkam Tufan Aytav, vice-presidente da Fundação Escritores e Jornalistas, próximo ao movimento “Hizmet” (“Serviço”, em turco) de Gülen.

A lista dos autores da ação aberta contra o religioso, revelada nesta quarta-feira, dá a ideia do caráter político da luta contra o que Erdogan chama de “Estado paralelo”.

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Além do chefe de Estado, figuram seu filho, Bilal, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, vários ministros e ex-ministros e o chefe dos serviços secretos, Hakan Fidan.