O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, anunciou na semana passada que uma delegação antichavista irá à Europa e aos Estados Unidos em busca de apoio ao seu Plano de Salvação Nacional, que tem como um dos pilares a negociação com o regime de Nicolás Maduro para que sejam convocadas eleições livres no país.
De acordo com Guaidó, um dos objetivos da viagem será articular um possível afrouxamento progressivo das sanções contra a Venezuela para barganhar com o ditador em troca de condições que permitam o retorno do país à democracia.
"Há um claro interesse do regime neste momento no levantamento progressivo das sanções (…). Faz parte do que vamos articular com nossos aliados. Já avançamos nisso há um ano, já existe um primeiro documento de trabalho", disse Guaidó em coletiva de imprensa. Segundo o líder opositor, a "Venezuela precisa de um acordo que gere avanços", por isso, discutirá com os parceiros internacionais "o levantamento progressivo das sanções".
Maduro disse, em maio, que está disposto a conversar com "toda a oposição".
Mediação norueguesa
De acordo com o analista político venezuelano Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e Governamentais da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), este ensaio de negociação entre oposição e regime chavista está sendo intermediado, novamente, pela Noruega. Ele acredita, inclusive, que a iniciativa deste diálogo foi dos noruegueses, que estiveram na Venezuela antes de Guaidó anunciar o Plano de Salvação Nacional.
Nessa nova viagem internacional, a delegação de Guaidó pretende coordenar os esforços de negociação com as sanções internacionais contra o regime. "Basicamente o que se quer é que a comunidade internacional e a mesa de negociação não sejam dois esforços divorciados, mas sim que sejam dois esforços com algum nível de coordenação para que, à medida em que façam acordos, possam também utilizar as negociações para pressionar ou premiar o feito de que se tornem possíveis alguns acordos e que se cumpram com esses acordos", explicou Alarcón.
Pressão sobre Maduro
Mas toda esta movimentação dificilmente vai causar alguma mudança na política venezuelana. Apesar das sanções internacionais e da grave crise econômica do país, Nicolás Maduro está conseguindo se manter no poder, usando a repressão para sufocar qualquer tentativa de levante ou protesto contra o governo. É preciso que haja uma grande pressão sobre Maduro para que ele aceite as petições da oposição. Guaidó sabe muito bem disso e está jogando com as peças que tem à disposição.
"É preciso buscar fórmulas para que a pressão seja muito mais eficiente e efetiva e que isso possa obrigar o governo a aceitar a necessidade de algumas mudanças e de [aceitar] algumas condições eleitorais", opinou o cientista político.
Essa pressão poderia vir das ruas da Venezuela, com massivos protestos contra Maduro, mas a oposição de Guaidó não conseguiu recuperar a empolgação popular observada no começo de 2019, quando ele foi proclamado presidente da Venezuela pela Assembleia Nacional. A retomada dos protestos faz parte do Plano de Salvação Nacional, mas até agora, segundo Alarcón, a oposição não conseguiu elevar a pressão interna contra o regime.
"Aqui as mobilizações, os protestos, são coisas que em mais de uma oportunidade desapareceram, por dizer assim, e deixaram de ocorrer por períodos mais ou menos longos e depois novamente reaparecem. Então é muito difícil precisar quando vão voltar a aparecer – estou muito seguro de que vão voltar a acontecer – e o que seria o detonador destes novos protestos".
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