Análise
"Decisão de Havana é arriscada"
A decisão de Cuba de desligar trabalhadores do setor público e estimular a transferência para o setor privado é um risco político, mas um enorme passo econômico e para o qual há demanda.
A análise é de Julia Sweig, especialista em Cuba do Council on Foreign Relations que acaba de voltar da ilha, onde se reuniu com o ex-ditador Fidel Castro.
"É o tipo de coisa que gera críticas ao governo [politicamente] caso façam ou não façam", disse ela durante conferência telefônica.
Para Sweig, a mudança, como outras do dirigente máximo Raúl Castro, não é uma "submissão" ao capitalismo.
E as reformas, certamente, têm a bênção de Fidel, diz.
Para os 500 mil que ficarão desempregados, ela prevê "um período de adaptação", mas um futuro mais seguro.
Força de trabalho
Demissão de funcionários públicos é considerada maior reforma pró-pequena iniciativa privada desde 1968.
500 mil funcionários públicos excedentes serão demitidos até março do ano que vem.
11,4 milhões é a população aproximada de Cuba.
5,1 milhões é a força de trabalho total no país.
4,2 milhões constitui a força de trabalho no serviço público cubano.
Fonte: Escritório Nacional de Estatísticas de Cuba (2009).
Opinião
A demissão em massa de trabalhadores em Cuba é mais uma demonstração do fracasso da experiência socialista. É também sinal de que tempos piores virão, já que a economia cubana não tem a mínima condição de funcionar com o modelo atual.
Caracas - O governo cubano anunciou ontem que vai demitir até março de 2011 ao menos 500 mil trabalhadores estatais, ou 12,5% da força de trabalho do país comunista. Mais meio milhão estaria "excedente no país, ou seja, provavelmente será demitido numa segunda etapa. O corte é uma das mais importantes e delicadas medidas econômicas do país em ao menos 20 anos.
A demissão em massa foi comunicada pela Central de Trabalhadores de Cuba (CTG), ligada ao governo, em informe no jornal estatal Granma. Os cortes começam no mês que vem.
Segundo a CTG, os demitidos serão inseridos no setor "não estatal da economia e apenas as vagas "imprescindíveis serão repostas no Estado, em áreas como agricultura e educação.
Para ampliar as vagas no setor privado, o governo incentivará o "arrendamento, o usufruto [de terras], cooperativas e trabalho por conta própria, para onde se moverão milhares de trabalhadores nos próximos anos.
O ditador Raúl Castro havia anunciado em agosto passado que o Estado facilitaria licenças para pequenos negócios hoje restritas de barbearias a pequenas oficinas mecânicas.
Disse ainda que esses negócios, que passarão a pagar impostos, poderiam, pela primeira vez, contratar funcionários.
Segundo documento do Partido Comunista cubano citado pelo jornal Financial Times, Havana pretende conceder mais de 400 mil novas licenças.
A central anunciou que a medida faz parte do plano de "atualização do modelo econômico cubano os dirigentes comunistas rejeitam falar em "transição" apenas dias depois de o ex-ditador Fidel Castro haver dito, em entrevista à revista The Atlantic, que o antigo modelo cubano "não funciona nem sequer para Cuba.
Risco político
A demissão em massa é considerada uma medida necessária há anos para aumentar os baixos índices de produtividade da ilha. Mas é arriscada politicamente, uma vez que as vagas desaparecerão, já que as liberalizações no pequeno sistema privado apenas engatinham no emaranhado burocrático estatal.
Segundo o governo, Cuba tem pouco mais de 5 milhões de ocupados, sendo que 4,2 milhões estão no Estado. O setor privado, com 500 mil trabalhadores, é representado por pequenos produtores rurais.
"É uma medida necessária, mas é muito preocupante. Em abril, serão 500 mil pessoas sem trabalho sem que o governo tenha feito as reformas necessárias para absorvê-los. O que foi feito até agora é muito tímido. O modelo não precisa de atualização, precisa de mudança radical, diz o economista Oscar Chepe.
Interatividade
As mudanças anunciadas pelo governo sinalizam uma submissão de Cuba ao capitalismo ou são apenas um a "jogada" do regime?
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