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Uma semana após a aquisição por Elon Musk por 44 bilhões de dólares (R$222 bilhões), a rede social Twitter demitiu metade de seus funcionários — em torno de 3.750 pessoas. A medida é necessária, segundo Musk, pois a empresa estava sangrando quatro milhões de dólares por dia. Todos receberam um e-mail na sexta-feira (4) informando sobre sua continuidade ou desligamento. Os desligados foram informados que aquele era o seu último dia de trabalho, mas que continuariam recebendo até janeiro de 2023.
No mesmo dia, Elon Musk esteve em um evento na ilha de Manhattan, em Nova York, organizado pelo bilionário Ron Baron. Conversando com Baron, ele disse que havia “muitas pessoas que não são muito produtivas. Elas trabalham de casa. Não escreveram muito código [de programação]”.
Relatos dos demitidos circularam pela própria rede social neste sábado. “Acordei com a notícia de que meu tempo trabalhando no Twitter acabou. Estou de coração partido. Estou em negação”, disse a canadense Michele Austin. Cerca de 150 foram demitidos no Brasil, de acordo com o Valor Econômico. “Lá por meia noite cortaram os acessos sem dizer nada e umas 4h30 recebi a confirmação do desligamento”, disse ao jornal O Globo uma brasileira anônima que trabalhava na área da publicidade do Twitter.
A Associated Press informa que ao menos uma pessoa demitida abriu processo judicial contra o Twitter por alegada violação de leis federais que tratam do aviso prévio. As demissões “vão dificultar nossa capacidade de fornecer apoio para as eleições” de meio de mandato que acontecem nos Estados Unidos este mês, disse um dos afetados que falou anonimamente à agência de notícias. O presidente americano Joe Biden expressou a mesma preocupação. Mas Yoel Roth, chefe de segurança do site, diz que o setor de moderação de conteúdo foi um dos menos afetados, perdendo 15% de seu quadro de funcionários.
No Brasil, a rede social tem atendido a pedidos de censura do TSE, inclusive contra um tweet da Gazeta do Povo no mês passado sobre a relação de Lula com o ditador da Nicarágua Daniel Ortega. Perfis de apoiadores de Bolsonaro que questionam o resultado das eleições, como o do deputado Nikolas Ferreira, tiveram acesso suspenso no Brasil. Algumas contas verificadas brasileiras (com um selo azul) lamentaram a perda de um suposto acesso privilegiado ao Twitter para desbanir contatos ou recomendar novos selos de verificação.
Segundo os demitidos, equipes inteiras foram mandadas embora, incluindo um grupo de engenharia de software que cuidava da acessibilidade para usuários com deficiências. Segundo a Bloomberg, os funcionários mantidos foram julgados segundo a sua contribuição para o código do Twitter, ou seja, de acordo com seu trabalho em programação.
Jack Dorsey, ex-chefe executivo e fundador do Twitter, se desculpou na rede social por ter deixado a empresa “crescer rápido demais”, o que contribuiu para o número de demissões. “Entendo que muitos estão com raiva de mim”, comentou. Porém, suas interações públicas com Musk foram amigáveis durante o processo de aquisição.
Progressistas irritados pressionam anunciantes
Anunciantes como a Volkswagen comunicaram uma interrupção no investimento de publicidade na rede. A fabricante de automóveis estende a decisão a todas as suas subsidiárias, como Audi, Bentley, Porsche e Scania. O bilionário sul-africano radicado nos Estados Unidos culpa ativistas progressistas por pressionarem os anunciantes. De fato, pressão sobre anunciantes tem sido uma tática política comum desses grupos, sempre contra alvos de direita ou conservadores. Importante lembrar, no entanto, que a Volkswagen é competidora de outra empresa de Elon Musk, a Tesla, que faz carros elétricos — o que pode ter também influenciado na decisão.
O Twitter está instaurando um plano mensal de US$8 (R$40,35 — mas o preço no Brasil poderá ser diferente) para os usuários que querem ter selos de verificação, entre outros benefícios. O plano é uma modificação do “Twitter Blue”, assinatura que já existia na rede social. Inicialmente, Musk propôs US$20 mensais (R$100,8), o que irritou a celebridades como o escritor Stephen King.
A decisão de reduzir o quadro de funcionários veio dias antes das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos. Líderes Democratas expressaram preocupação com a capacidade da rede social de conter desinformação nos últimos dias de campanha. Antes, foi demitida a chefe de assuntos jurídicos Vijaya Gadde, principal responsável pelo banimento de ex-presidente americano Donald Trump do Twitter antes dos eventos da invasão do Capitólio após sua derrota eleitoral em 6 de janeiro de 2021.
Para os membros do Partido Republicano, a mudança de direção da rede social sob Musk é uma boa notícia, já que ele promete liberdade de expressão sob limites legais, não limites que eles consideram derivados da ideologia progressista. A conta de um site de notícias satíricas, o “Babylon Bee”, foi banida por fazer uma piada em que chamava de homem uma pessoa transexual do governo Biden, por exemplo.
O processo de aquisição da rede social foi lento, levando meio ano de negociações, desistências e retomadas. Musk não é exatamente um inimigo dos progressistas. Doador histórico de campanhas de Democratas, ele poupou de demissão Yoel Roth, que irritou a muitos conservadores com tweets de cunho político ao longo dos anos. Em janeiro de 2017, Roth chamou o governo de Donald Trump de “nazistas de verdade na Casa Branca”. No ano anterior, após a vitória de Trump, ele disse “voamos por cima desses estados que votaram em uma tangerina racista por um bom motivo”.
Pressionado por seguidores, Elon Musk disse que confia em Yoel Roth e que todos têm tweets dos quais se arrependem, “eu mais que a maioria”. Sua lealdade ao funcionário pode ter como raiz documentos internos que mostram que Roth dizia à cúpula agora demitida que Musk tinha razão quanto a estarem manipulando as estatísticas sobre o número de contas robôs, acusação que o bilionário fez ao tentar desistir da compra. “Meu sentimento é que ele tem muita integridade”, comentou Musk, “e todos temos direito a ter nossas crenças políticas”.