Em julho de 2013, um ano após a chegada da Irmandade Muçulmana ao poder, a primeira experiência democrática no Egito foi abortada por um golpe militar liderado pelo marechal Al-Sisi. Atendendo ao clamor do povo, o Exército retirou o presidente Mohammed Mursi, após cinco dias de protestos populares que levaram 14 milhões de pessoas às ruas.
Tão impressionante quanto a imagem das multidões foi a reação imediata ao golpe. Lideranças religiosas e políticas declararam seu apoio à derrubada de Mursi. Ao redor do mundo árabe, gestos de apoio ao retorno dos militares confirmavam que a primavera de 2011 havia se transformado em rigoroso inverno. Mesmo as potências do ocidente, defensoras dos valores democráticos, fecharam os olhos para o autoritarismo que se instalou. Nunca esconderam seu incômodo com o fato de um partido islâmico ter vencido as eleições no país.
Em um só dia, em agosto, mais de 600 manifestantes pró-Mursi foram mortos pelas forças de segurança egípcias. Nos últimos meses, foram mais de 3 mil vítimas fatais da violência generalizada, além do retorno do terrorismo e de julgamentos arbitrários. A condenação meramente retórica ao novo regime revela que mesmo as grandes nações livres preferem, muitas vezes, aliar-se com ditaduras estáveis, ainda que à custa das populações locais.
O Egito encontra-se num dilema entre democracia e estabilidade. Al-Sisi é o símbolo máximo de que prevalece a busca pela ordem. Domesticamente, é a garantia de que os religiosos não voltarão ao poder. Para o mundo, trata-se de aliado confiável. Diante das circunstâncias, a democracia pode esperar. Por outro lado, o crítico quadro econômico e social ainda está longe de ser revertido.
Embora sem grande apelo partidário e com baixa legitimidade, as eleições de julho serão cruciais para o futuro do país. Mas os indícios de que o marechal Al-Sisi queira perpetuar-se no poder, em pleito já contestado, não são animadores. No jogo entre democracia e estabilidade, ambas ficam cada vez mais distantes no horizonte.
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