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Leonardo Arquimimo de Carvalho

Democracia na América e doxa republicana

A manifestação anti-republicana para a Câmara de Representantes e para o Senado resume, neste momento, um sentimento de desconfiança em relação aos custos humanos e fiscais da Guerra no Iraque. Igualmente, propõem uma certa reavaliação das questões comportamentais vinculadas diretamente a vida privada de alguns políticos republicanos, mas essencialmente questiona um conjunto de escolhas gerais feitas nos últimos anos.

A manifestação traz uma resposta objetiva, e não ambiciona questionar os princípios gerais das opções norte-americanas em relação ao mundo ou um eventual comportamento antiético, ilegal ou ilegítimo nas aventuras militares recentes. O patriotismo não tem permitido, num país que profissionalizou suas forças armadas, uma olhar despreocupado em relação aos custos humanos de qualquer ação militar. A idéia é elementar: fazer o que for necessário para garantir a estabilidade econômica, o desenvolvimento e a segurança interna, contudo, sem o sangue quase pré-púbere de soldados e sem os eventuais custos econômicos e individuais de qualquer medida externa.

Um detalhe que não pode ser ignorado é que nos últimos anos a administração republicana criou uma rede de proteção das suas políticas mais contestadas. Como conseqüência construiu uma institucionalidade e uma racionalidade em torno das suas ações. Departamentos, agências e agentes, escolas e pesquisas, normas e regulamentos, acordos e tratados, inteligência, ferramentas, maquinário e novas tecnologias, além de outros elementos encastelaram uma política autônoma, eficiente e integrada de proteção do espaço interno.

A aproximação entre o espaço político interno e o internacional, militar e policial foi legitimada com base nos anseios hodiernos da comunidade doméstica. Um movimento político de alteração radical de rumos seria funesto. Os bastardos frutos que as ações diretas, as omissões ou o suporte aos aliados produziram não serão sazonais. O neoconservadorismo, que dominou os canais de assessoramento político em Washington nos últimos 12 anos, internacionalizou suas políticas. Bush terá novos desafios para os próximos dois anos, porém a doxa republicana amalgamou suas ações de forma longa nas relações internacionais.

Leonardo Arquimimo de Carvalho é pesquisador da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas

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