A chegada de Barack Obama à Presidência não significa o início de uma nova era nas relações entre Estados Unidos e Brasil. Além de ter de priorizar a resolução dos problemas profundos que atravessa a economia americana, o democrata tem uma lista de reformas internas e duas guerras inacabadas que tomarão conta de sua agenda antes que ele possa se voltar para a América Latina.
A maior mudança na política externa que pode envolver o Brasil já nos primeiros meses do governo Obama é uma possível guinada na relação americana com Cuba. É bastante provável que uma de suas primeiras ações seja o fechamento da base de Guantánamo, que fica na ilha de Cuba e é alvo de críticas dos grupos de proteção aos direitos humanos por manter dezenas de pessoas presas sem julgamento. O passo seguinte na ilha seria uma aproximação política com o governo comunista de Raúl Castro.
"Pode ser que a aproximação comece com concessões como a permissão de viagens de americanos para Cuba, ou a liberação de remessas dos imigrantes cubanos que vivem nos Estados Unidos", diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, a aproximação de Cuba poderia ser seguida de uma política mais pragmática com outros governos esquerdistas da América Latina, em especial o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Não está claro ainda se o Brasil faria parte de uma nova estratégia para lidar com os governos de esquerda. O professor de relações internacionais da PUC-SP Paulo Edgar Almeida Resende avalia que essa é uma possibilidade real, já que o governo brasileiro mantém boas relações com esses países, incluindo Cuba. "Acho que os EUA percebem o Brasil como um emergente que ganha projeção e que pode ter um papel na sua estratégia geopolítica na América Latina", comenta.
Qualquer mudança na região, porém, não a colocará acima de outras prioridades no cenário global. Os EUA têm de concentrar esforços para concluir as guerras no Iraque e no Afeganistão, o que envolve a manutenção de parcerias com diversos países europeus. As guerras estão intimamente ligadas a como Obama lidará com a disputa entre israelenses e palestinos, e com o Irã.
Comércio
Em geral, os especialistas apontam que os presidentes democratas, como é o caso de Obama, tendem a ser mais protecionistas em suas políticas de comércio internacional. "Isso ocorre porque os sindicatos têm muita influência sobre o partido. A pressão aumenta quando há desemprego", explica Almeida Resende. A equipe econômica de Obama, porém, tem credenciais bastante liberais e não deve promover uma guinada protecionista como resposta aos problemas econômicos.
Para o Brasil, o governo democrata deve significar uma espera maior para a derrubada das tarifas que restringem a venda do etanol de cana no mercado americano. "É algo que não vai mudar tão cedo. Mas energia é um item que pode aproximar mais o Brasil dos Estados Unidos no longo prazo", analisa David Fleischer.
Crise interna
Com a escalada da crise econômica, o governo de Barack Obama deve se concentrar em ações mais amplas na política interna. "Ele terá de lidar primeiro com problemas internos, sendo muito menos intervencionista na área internacional do que o governo Bush", diz o historiador Waldir Rampinelli, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Enquanto faz as reformas internas, o novo governo terá de recompor os apoios nas agências multilaterais para cumprir a promessa de reavivar a influência americana.
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