Após uma noite em claro dedicada a um extenso debate sobre o Iraque, os senadores democratas americanos defenderam nesta quarta-feira, até o último minuto e sem sucesso, o retorno das tropas.
Apesar da recente deserção de influentes senadores republicanos, os democratas não conseguiram reunir os 60 votos necessários para forçar o presidente George W. Bush a começar uma retirada das tropas americanas estacionadas no Iraque.
O projeto de lei democrata reivindicava o início da retirada do efetivo nos 120 dias após a promulgação do texto, com conclusão prevista até 30 de abril de 2008.
Ao final de uma maratônica sessão sobre o Iraque que começou na terça-feira à noite, os senadores democratas conseguiram 47 votos contra 52 dos republicanos.
Ainda assim, os opositores de Bush não se deixam intimidar. O senador por Nova York Charles Schumer garantiu que "vale a pena" e advertiu que "não vamos parar antes de conseguir os 60 votos".
Frustrados com seus esforços, os dirigentes democratas do Senado decidiram inovar, realizando uma rara sessão noturna, a primeira em quatro anos, visando a acabar com que eles consideram ser uma obstrução parlamentar dos republicanos.
Sob os lambris do Senado americano, camas de campanha, cobertores e travesseiros foram entregues aos parlamentares, que também pediram pizzas. Em paralelo, uma vigília pela paz já havia reunido centenas de opositores da guerra em um parque próximo ao Capitólio.
"A América está acordada", disse, durante a noite, o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, que atacou incansavelmente seus adversários republicanos.
"Bloqueando a votação, os republicanos mostram que estão mais interessados em proteger o presidente do que nossas tropas", criticou.
Já madrugada adentro, revezando-se na tribuna, os senadores democratas insistiram na mudança de comando em uma guerra cada vez mais impopular e denunciaram o que o senador democrata Robert Mendez chamou de "tirania da minoria".
A senadora por Nova York e candidata à Casa Branca, a ex-primeira-dama Hillary Clinton, que em 2002 votou pela autorização da guerra, tomou a palavra por volta das quatro da manhã para condenar "uma longa série de erros e de maus cálculos que agora tentamos consertar".
O decano do Senado, Robert Byrd, de quase 90 anos, destacou com um tom fúnebre que "faz mais de quatro anos que o presidente Bush anunciou 'missão cumprida' e mais de 3.500 soldados americanos estão mortos, mortos, mortos no Iraque".
Os republicanos ironizaram, por sua vez, essa maratona de debates "digna de Hollywood", segundo o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell.
Nesta quarta, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, disse que o presidente Bush não acompanhou o debate noturno. "Levamos muito a sério a desaprovação da guerra, mas se o Senado quiser realmente ser levado a sério, deverá garantir o financiamento das nossas tropas".
Já a secretária de Estados dos EUA, Condoleezza Rice, que desistiu de viajar a Gana nesta semana, reuniu-se nesta quarta-feira com parlamentares no Congresso.