Sede da Suprema Corte dos Estados Unidos, em Washington| Foto: EFE/EPA/WILL OLIVER
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Órgãos de imprensa dos Estados Unidos, citando fontes da Casa Branca, noticiaram na terça-feira (16) que o presidente Joe Biden planeja apresentar uma proposta para mudar o funcionamento da Suprema Corte do país.

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Segundo as reportagens, o projeto, que precisaria ser aprovado pelo Congresso americano, estabeleceria mandatos temporários para os juízes e um código de ética regulado por lei.

No primeiro ponto, hoje a Constituição dos Estados Unidos estabelece apenas que os juízes da Suprema Corte “deverão exercer seus cargos enquanto apresentarem bom comportamento”. Ou seja, se o magistrado não tiver problemas de saúde mental ou éticos (passíveis de impeachment no Legislativo), pode exercer o cargo até o fim da vida.

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Na segunda questão, o tribunal adotou em novembro do ano passado o seu primeiro código de ética, mas, segundo analistas, a norma não impôs novos requisitos significativos, de forma que a fiscalização sobre seu cumprimento vai do entendimento de cada juiz.

Desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2021, Biden acumula derrotas importantes na Suprema Corte, que hoje tem maioria conservadora: seis dos nove juízes foram indicados por presidentes republicanos, três deles no mandato de Donald Trump (2017-2021).

No início de 2022, o tribunal derrubou uma norma do governo federal que exigia que todos os trabalhadores de grandes empresas fossem vacinados contra a Covid-19 ou trabalhassem com máscaras e fossem submetidos a testes semanalmente.

No meio daquele ano, veio o maior revés para a gestão democrata: a Suprema Corte derrubou a jurisprudência do caso Roe vs. Wade, de 1973, que havia determinado que os estados americanos não poderiam ter leis vetando o aborto antes da chamada viabilidade (quando o feto tem condições de sobreviver fora do útero, por volta de 24 semanas de gestação).

A decisão devolveu aos estados americanos a liberdade de legislar como preferissem sobre o aborto. Dessa forma, muitos estados governados pelos republicanos reativaram ou implementaram leis pró-vida mais rígidas.

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No mês passado, os democratas sofreram novas derrotas significativas em julgamentos na Suprema Corte.

O Supremo reduziu o poder das agências federais, ao estabelecer que os tribunais devem se basear na sua própria interpretação das leis quando não houver um entendimento claro na legislação sobre o tema em disputa, ao invés de levar em conta a interpretação feita por órgãos do governo federal.

Além disso, em resposta a uma demanda de Trump, a corte concedeu imunidade parcial a presidentes e ex-presidentes americanos.

A Suprema Corte deliberou que ocupantes ou ex-ocupantes do cargo mais importante do Executivo americano podem reivindicar imunidade por “atos oficiais” praticados durante seus mandatos.

A decisão já trouxe impactos sobre os processos criminais contra Trump. O anúncio da sentença do caso Stormy Daniels, no qual o ex-presidente republicano foi considerado culpado por um júri em Nova York no final de maio, foi adiado para setembro, para que sejam analisados os pedidos da defesa para que o processo seja anulado à luz da decisão da Suprema Corte.

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Esta semana, uma juíza federal da Flórida rejeitou o processo contra Trump no caso dos documentos confidenciais levados para sua residência em Mar-a-Lago após o fim do seu mandato presidencial.

A juíza Aileen Cannon considerou inconstitucional a nomeação de um procurador federal específico para o caso, corroborando uma tese de um juiz da Suprema Corte, Clarence Thomas, que também apontou indícios de inconstitucionalidade na mesma medida no caso em que Trump é réu pelo ataque ao Capitólio em 2021 – processo que foi a base da decisão do Supremo sobre a imunidade parcial.

Deputada democrata pede impeachment de juízes da Suprema Corte

Thomas e outro juiz conservador, Samuel Alito, se tornaram na semana passada alvos de um pedido de impeachment apresentado pela deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que os acusou de terem recebido “milhões de dólares em presentes de indivíduos com processos perante o tribunal”.

A deputada citou também que Thomas se negou a se declarar impedido para julgar processos envolvendo “interesses legais” e “financeiros” da esposa dele, a ativista conservadora Ginni Thomas. Os dois juízes não se pronunciaram sobre o pedido de impeachment apresentado por Ocasio-Cortez.

Alito se envolveu em outra polêmica em maio, quando o jornal The New York Times informou que uma bandeira americana de ponta-cabeça foi hasteada em frente à residência do juiz em Alexandria, no estado da Virgínia, poucos dias após o ataque ao Capitólio, e que outra bandeira, com a mensagem “Apelo ao Céu”, foi colocada em frente à casa de praia do juiz em Nova Jersey no ano passado.

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As duas bandeiras são símbolos de apoiadores de Trump, que as empunharam na invasão ao prédio do Legislativo americano em 2021. Alito alegou que as bandeiras foram colocadas por sua esposa e que ele só percebeu depois. O juiz recusou um pedido de congressistas democratas para se declarar impedido em processos envolvendo Trump.

Na terça-feira, Trump criticou os planos de Biden de mudanças na Suprema Corte.

“Os democratas da esquerda radical estão tentando desesperadamente ‘bancar o árbitro’, apelando a um ataque ilegal e inconstitucional à nossa sagrada Suprema Corte dos Estados Unidos. A razão pela qual estes comunistas estão tão desiludidos é que as suas caças às bruxas ilegais estão dando errado em todo lugar”, escreveu o ex-presidente na sua rede social, Truth Social.

“Os democratas estão tentando interferir nas eleições presidenciais e destruir o nosso sistema de Justiça, atacando o seu oponente político, eu, e a nossa honorável Suprema Corte. Temos que lutar pelos nossos tribunais justos e independentes e proteger o nosso país. MAGA 2024!”, acrescentou, citando a sigla em inglês para seu slogan de campanha (“Faça a América Grande de Novo”).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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