EUA pedem "investigação urgente"
O Governo dos Estados Unidos se mostrou nesta quarta-feira (21) "profundamente preocupado" pelas denúncias de um novo ataque com armas químicas na Síria e pediu à ONU uma "investigação urgente" para a qual, segundo disse, o regime de Bashar al Assad deve permitir um acesso "sem restrições".
Testemunhas na região síria de Guta Oriental descreveram sintomas próprios de armas químicas no ataque da manhã desta quarta-feira (21) que deixou centenas de mortos e muitos feridos, informou a organização Human Rights Watch (HRW).
Em comunicado, a ONG disse que, se o governo sírio não tem nada a ver com o ataque, como afirma, deve dar "acesso imediato" à área para a equipe da ONU de investigação de armas químicas que está em Damasco.
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Vários moradores e médicos locais denunciaram à HRW que centenas de pessoas, incluindo muitas crianças, morreram aparentemente asfixiados.
"Um enorme número de pessoas de Guta morreram, e os médicos e testemunhas descrevem detalhes horríveis do que parece ser um ataque com armas químicas", disse a nota o responsável para o Oriente Médio da HRW, Joe Stork.
As testemunhas revelaram que aparentemente foram afetadas várias povoações como Zamalka, Ayn Tarma e Moadamiya, e que "acham que eram armas químicas transportadas por mísseis lançados a partir de áreas de Damasco controladas pelo governo", acrescenta o comunicado.
Dois médicos disseram à HRW que os afetados sofriam de sintomas "consistentes" com a exposição a agentes nervosos, como asfixia, problemas respiratórios, náuseas, convulsões, enjoos, saída de líquido de olhos e nariz, visão confusa ou pupilas vermelhas e dilatadas.
Os médicos também disseram que os serviços de saúde da região estão ficando sem remédios para tratar os sintomas.
A HRW insistiu que o governo sírio deveria dar à missão de especialistas em armas químicas da ONU, que chegou a Damasco fim de semana passada e iniciou seu trabalho na segunda-feira, "acesso e cooperação plena" para de determinar quem é o responsável pelo ataque.
Algumas cidades de Guta Oriental, controladas pelos rebeldes, estão sitiadas pelas forças do regime sírio desde o começo de 2012, por isso a organização humanitária pediu ao governo sírio que permita "imediatamente" a chegada de provisões de urgência para socorrer ao milhão de pessoas que vivem na região.
ONU diz que insegurança na Síria impede equipes de chegar a local de ataque
A ONU pediu autorização nesta quarta-feira (21) ao regime sírio para investigar as denúncias de um ataque com armas químicas nos arredores de Damasco, mas alertou que por enquanto o acesso a região não é possível pela situação de insegurança.
"É uma situação dramática e neste momento não é possível chegar à área por causa da situação de insegurança", disse o subsecretário-geral da ONU, Jan Eliasson, após informar ao Conselho de Segurança sobre os últimos eventos na Síria.
Depois de confirmar que a missão da ONU pode investigar o ataque, Eliasson lembrou que a equipe liderada pelo professor sueco Ake Sellström "está na região" e espera receber autorização das autoridades sírias para chegar à área.
O Conselho de Segurança da ONU realizou hoje uma reunião urgente a portas fechadas a pedido de França, Reino Unido, Luxemburgo, Coreia do Sul e EUA para abordar os últimos eventos na Síria.
A rebelde Coalizão Nacional Síria (CNFROS) denunciou que pelo menos 1.300 pessoas morreram hoje em um suposto ataque com armas químicas do exército nos arredores de Damasco, acusações negadas pelas autoridades sírias de forma imediata.
Eliasson lembrou que o secretário-geral, Ban Ki-moon, está "comovido" pelas notícias que chegam da Síria e pediu para que este ataque seja averiguado "o mais rápido possível", para o que a missão em Damasco está negociando com o regime de Bashar al Assad.
"Estamos em contato com o governo sírio e esperamos que as partes cooperem para que possamos dar andamento à investigação ", acrescentou o subsecretário-geral, que cobrou de todas as partes que "contenham" o conflito.
Tanto o regime de Damasco como os insurgentes se acusam reciprocamente de empregar este tipo de armas na Síria, um dos sete países que não assinou a Convenção sobre Armas Químicas de 1997.
Desde que começou a guerra civil na Síria, em março de 2011, morreram mais de 100 mil pessoas e quase sete milhões precisam de ajuda humanitária de emergência, segundo os números mais recentes das Nações Unidas.