Saddam Hussein foi enforcado ao amanhecer deste sábado no Iraque por crimes contra a humanidade, um dramático e violento fim para o líder que comandou o país por meio do medo por três décadas antes de ser derrubado por uma invasão norte-americana em 2003.

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No que parece ser uma rápida resposta à execução por parte de insurgentes sunitas leais a Saddam, um carro-bomba explodiu em uma cidade xiita matando 34 pessoas -o tipo de violência sectária que tem ameçado lançar o Iraque em uma guerra civil.

A televisão estatal iraquiana levou ao ar imagens de Saddam Hussein, aparentando estar calmo, trocando uma ou outra palavra com o homem mascarado que ajeitava a corda em volta de seu pescoço e o encaminhava para o cadafalso.

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``Foi muito rápido. Ele morreu imediatamente'', disse à Reuters uma das testemunhas oficiais da execução levadas pelo Estado ao local da forca. Segundo ela, o ex-presidente iraquiano, que estava constrangido mas não usou o capuz, fez uma breve oração antes de morrer.

``Nós ouvimos seu pescoço quebrar'', disse Sami al-Askari, um aliado do primeiro ministro Muri al-Maliki, depois do enforcamento em um edifício do Ministério da Justiça na parte norte de Bagdá.

Enquanto os companheiros shiitas de Maliki, oprimidos durante a ditadura de Saddam, que era sunita, celebravam nas ruas, o primeiro-ministro pediu aos seguidores sunitas do ex-presidente para encerrarem a insurgência.

O presidente dos Estados Unidos, George Bush, afirmou que o enforcamento foi um ``marco'' para a democracia iraquiana.

``A execução de Saddam coloca um fim a todas as apostas patéticas no retorno da ditadura'', disse Maliki, que, segundo funcionários do governo, não compareceu ao enforcamento.

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A televisão estatal mostrou o primeiro-ministro assinando a ordem de execução.

``Eu insto aos seguidores do regime deposto para reconsiderar suas posturas, já que a porta ainda está aberta para qualquer um que não tenha sangue inocente nas mãos para ajudar a reconstruir o Iraque'', disse Maliki.

A polícia de Kufa, perto da cidade xiita sagrada de Najaf, informou que 34 pessoas foram mortas e 58 ficaram feridas por um carro-bomba que explodiu em uma área comercial repleta de pessoas antes do período festivo do Eid al-Adha. Segundo ela, a multidão matou um homem acusado de participação no atentado.

Bush, que classificou Saddam como uma ameaça mesmo sem que alegadas armas nucleares e outras nunca tenham sido encontradas, afirmou: ``Fazer justiça no caso de Saddam não vai encerrar a violência no Iraque, mas é um importante marco no caminho para uma democracia que possa governar, sustentar e se defender''.

A morte de mais quatro soldados levou o número de militares dos EUA mortos no Iraque perto da marca de 3 mil, aumentando a pressão sobre Bush para que uma nova estratégia seja encontrada.

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Reações silenciosas

As reações populares ao enforcamento de Saddam foram silenciosas, com o país entrando no dia mais sagrado do calendário muçulmano para iniciar uma semana de celebrações no Eid al-Adha. Ao contrário de outros dias de tensão, não foi instaurado toque de recolher em Bagdá após a execução.

Shiitas jubilantes, oprimidos sob Saddam, dançaram nas ruas de Najaf e motoristas acionaram as businas dos carros em desfiles pelo bairro de Sadr City, um reduto xiita de Bagdá.

O principal canal de televisão sunita fez uma cobertura limitada da execução, mas mostrou imagens antigas de Saddam ao lado do ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, de um período quando os norte-americanos ajudaram o Iraque na luta contra o Irã.

A televisão estatal Iraqiya, por sua vez, mostrou imagens de arquivo de agentes de Saddam degolando e torturando vítimas do regime.

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Um homem da cidade de Dujail, que testemunhou contra Saddam no julgamento pela morte de 148 xiitas no local, disse que lhe foi permitido se aproximar do corpo de Saddam.

``Quando eu vi o corpo no caixão eu chorei. Eu me lembrei dos meus três irmãos e do meu pai que foram mortos por ele. Eu me aproximei do corpo e disse pra ele: 'essa é uma punição merecida para qualquer tirano''', afirmou Jawad al-Zubaidi.

``Agora, pela primeira vez, meus três irmãos e meu pai estão contentes''.

A rápida execução foi um triunfo para Maliki, cujo comando do frágil governo de coalizão tem sido questionado.

Mas a velocidade do processo pode render críticas.

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Muitos curdos, por exemplo, ficaram desapontados por Saddam não ter enfrentado julgamento também por crimes praticados contra eles.

Novas execuções devem ocorrer em uma semana. O meio-irmão de Saddam, Barzan al-Tikriti, e um ex-juiz, Awad al-Bander, deverão ser enforcados após o período do Eid.

A filha de Saddam, Raghd, exilada na Jordânia, quer que o pai seja enterrado no Iêmen, disse uma fonte próxima da família.

O governante da cidade natal de Saddam, Tikrit, disse que o povoado local estava negociando com o governo para ter o corpo do ex-ditador, que seria sepultado em Awja, onde os filhos de Saddam foram enterrados em 2003. Mas o governo pretende enterrar o ex-presidente em Badgá.