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Espanha

Depois do acordo, a parte mais difícil

Paris – A Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade) mais conhecida pela sigla ETA, decidiu, então, depor as armas. Seus porta-vozes, encapuzados e tenebrosos, anunciaram um cessar-fogo permanente. O presidente socialista do governo de Madri, José Luis Rodriguez Zapatero, celebrou a boa nova.

A ETA mata há 38 anos. A ETA está encharcada de sangue. Ela nasceu em 1959, isto é, sob o reinado do ditador Francisco Franco. O retorno da democracia não abrandou seus assassinatos: 817 pessoas, sobretudo policiais, foram abatidas pela ETA. Atentados sem conta foram perpetrados pela organização. Em várias ocasiões, no passado, a ETA anunciou tréguas, mas todas as vezes a trégua durava alguns meses, como no fim de 1998 e fim de 1999, depois do que a ETA, revigorada por alguns meses de repouso, recomeçava suas proezas com renovada selvageria.

Desta vez a esperança é mais séria. Primeiro pelo fracasso da organização. Em 38 anos de atividade clandestina e assassinatos sórdidos, a ETA não obteve nem a autodeterminação nem certamente a independência da província espanhola basca (2,1 milhões de habitantes e várias grandes cidades: San Sebastien, Vitória, Bilbao).

A organização separatista, por seu lado, sofreu também sangrias trágicas. Muitos de seus chefes e soldados foram abatidos ou capturados. E, paralelamente, a opinião pública espanhola mostrou-se cada vez mais exasperada pelos matadores bascos. Manifestações monstro submergiram Madri na esteira de ações da ETA. A própria população espanhola basca tomou distância dos "açougueiros" da organização.

Um outro elemento que pesou foi o terrorismo islâmico da Al-Qaeda. As carnificinas perpetradas pelas fileiras de Bin Laden, primeiro em Nova Iorque, mais tarde na Espanha, revoltaram a opinião pública.

Um outro elemento permite esperar que a trégua desta vez será real. A expressão escolhida pelos chefes do ETA é: "Um cessar-fogo permanente". Ora, foi essa mesma expressão que empregaram, na Irlanda, os terroristas do IRA em 1998, e que permitiu integrar os nacionalistas irlandeses na vida política do Ulster, pondo fim ao terrorismo.

Agora, o premier espanhol Zapatero deve abrir negociações com o braço político da ETA, o Batasuna, para estudar as modalidades pelas quais a Espanha e o País Basco poderão organizar sua vida comum. Zapatero não tem ilusões: esta fase política será "dura, longa e difícil." Como fazer coincidirem duas posições incompatíveis? Os nacionalistas bascos sonham com independência. Mas Madri não pretende ir além de uma grande autonomia, por meio de um referendo.

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