A deputada democrata Gabrielle Giffords, atingida durante um tiroteio em Tucson, no estado do Arizona, neste sábado (9), mostra sinais de recuperação e já consegue se comunicar e obedecer a ordens simples, disse neste domingo (9) um médico que a atende.
"Estamos muito encorajados por isso", disse o neurocirurgião Michael Lemole, Jr. "Estou cautelosamente otimista."
Giffords foi atingida em um tiroteio durante um encontro com eleitores em um supermercado, que deixou 6 mortos e outros 13 feridos.
Um suspeito foi preso: Jared Lee Loughner, de 22 anos, descrito pelas autoridades como uma pessoa de "passado problemático". O jovem está sob custódia do FBI, a polícia federal dos EUA.
As autoridades investigam se há motivação política no crime, em um estado em que o clima estava acirrado desde a campanha eleitoral das eleições de novembro passado. Outro suspeito está sendo procurado.
Ataque
O atirador teria tentado falar com a deputada no evento, um encontro com eleitores do lado de fora de um mercado na cidade.
Ao ser informado por assessores dela que teria de esperar, foi embora, voltou com uma arma semiautomática e começou a atirar, segundo Alex Villec, que trabalhava no evento.
Primeiro, ele atirou na deputada. Ela foi atingida por um único tiro, que atravessou sua cabeça.
Depois, ele começou a disparar indiscriminadamente e só parou ao ser detido por dois homens, de acordo com a polícia.
Jason Pekau, vizinho de um estabelecimento comercial perto do local do tiroteio, disse que ouviu entre 15 e 20 tiros.
Os mortos são o juiz distrital John Roll, de 63 anos, Christina Greene, 9, Gabe Zimmerman, 30, Dorthy Murray, 76, Dorwin Stoddard, 76, e Phyllis Scheck, 79.
O juiz Roll teria passado no encontro para saudar a deputada, que era sua amiga, segundo testemunhas. Ele tinha vindo da missa.
A menina Christina chegou a ser levada ao hospital, onde morreu. Ela era neta de Dallas Green, técnico do time de beisebol Philadelphia Phillies campeão mundial de 1980, segundo a imprensa local.
Alvo
O motivo do ataque é desconhecido, mas o xerife do condado de Pima, Clarence Dupnik, disse acreditar que Gabrielle era o alvo dos tiros.
"O suspeito tem um tipo de passado problemático, e nós não estamos convencidos que ele agiu sozinho", disse Dupnik. Segundo a polícia, ele não está colaborando com as investigações.
De acordo com a imprensa local, ele teria postado críticas ao governo federal, democrata, em sites como o YouTube, no qual se qualificava como "terrorista". Ele também aparece queimando uma bandeira americana.
"O governo está fazendo controle da mente e lavagem cerebral nas pessoas controlando a gramática. Não! Não vou pagar meus deveres com uma moeda que não é apoiada pelo ouro e pela prata. Não! Eu não confio em Deus!", disse a pessoa identificada como Jared Loughner em um dos vídeos.
Em sua biografia no YouTube, o autor do post escreveu que estudou em escolas da região de Tucson e que seus livros favoritos eram "Minha Luta", de Adolf Hitler, "O Manifesto Comunista", de Karl Marx, e "Um Estranho no Ninho", de Ken Kesey.
Relatos de pessoas que conviveram com ele na escola, publicados na imprensa local, falam em um rapaz talentoso, mas arrogante, que tocava saxofone, era fanático por videogames e teve envolvimento com drogas e foi rejeitado ao tentar se alistar nas Forças Armadas.
Dupnik afirmou, ainda, que o suspeito já havia feito ameaças de assassinato no passado, mas não especificamente contra a congressista.
A polícia afirmou que está atrás de um outro suspeito, um homem com cabelo escuro e com cerca de 40 anos que foi visto próximo ao local do ataque
Encontro com eleitores
Giffords, de 40 anos, era anfitriã do evento "Congress in Your Corner" - reuniões públicas que dão aos eleitores a oportunidade de conversar diretamente com ela. Eleita pela primeira vez em 2006, ela é casada com o astronauta Mark E. Kelly.
Giffords é considerada uma democrata moderada, que defende um reforço na segurança das fronteiras e é a favor do direito de porte de armas.
Ela conseguiu a reeleição em novembro de 2010 por uma margem estreita, contra Jesse Kelly, um candidato republicano do movimento conservador americano Tea Party, cujo principal mote de campanha foram críticas ao apoio da democrata à reforma da saúde do governo Obama.
Houve radicalização durante a campanha, e seu escritório eleitoral em Tucson chegou a ser vandalizado.
As autoridades estariam investigando um pacote suspeito que tinha sido mandado a Giffords antes do ataque, segundo a TV Fox News.
A ex-governadora do Alasca e ex-candidata a vice-presidente republicana Sarah Palin, uma das principais líderes do Tea Party, manifestou "condolências" às famílias das vítimas. Palin havia colocado o nome de Giffords em uma "lista negra" por conta do apoio dela à reforma da saúde.
Imigração
A aprovação de uma dura e contestada legislação contra a imigração ilegal, no ano passado, também contribuiu para acirrar os ânimos entre democratas e republicanos no estado.
A governadora do Arizona, a republicana Jan Brewer, reconheceu que o tiroteio vai manchar a reputação do estado.
"Certamente não faz bem ao estado do Arizona. Mas temos muita gente boa, temos gente decente", disse ela, que foi a principal responsável pela implantação da lei contra a imigração.
Obama
O tiroteio foi classificado como "um ato de violência sem sentido" e uma tragédia "inqualificável" pelo presidente Barack Obama.
"Nós não temos ainda todas as respostas. O que nós sabemos é que um ato tão sem sentido e terrível de violência não tem lugar em uma sociedade livre. Eu peço a todos os americanos que se unam a mim e Michelle mantendo a representante Giffords, as vítimas dessa tragédia e suas famílias em nossas orações", disse Obama, que afirmou ser amigo da parlamentar.
Dois experientes funcionários do governo federal disseram que a Casa Branca está monitorando a situação.
Em Washington, por conta do tiroteio, congressistas adiaram uma votação sobre a polêmica reforma do sistema de saúde.
A polícia do Congresso pediu para que os parlamentares "tomem precauções sensatas e prudentes em sua segurança pessoal".
Mesmo assim, a maioria deles ainda está desprotegida do lado de fora do Capitólio, com exceção dos líderes da Câmara dos Deputados e no Senado.
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