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Um deputado da principal coalizão da oposição ao governo do presidente da Argentina, Alberto Fernández, apresentou um projeto de lei para retirar dois zeros do peso, a moeda do país, em meio a um cenário de alta inflação e perda de poder aquisitivo por parte da população.
"Diante de um governo que não tem um plano anti-inflacionário, pelo menos evitaremos importar papel-moeda e não traremos às pessoas o desconforto de ter que carregar uma enorme quantidade de cédulas para pagar por coisas mínimas", explicou o deputado Gerardo Milman, que apresentou a proposta, em entrevista à emissora de rádio "La Redonda" nesta segunda-feira.
O plano de Milman prevê que as notas de 100 pesos (R$ 3,94 no câmbio comercial ou R$ 2,27 no paralelo) passariam a circular com o valor de 1 peso. Milman ressaltou que a nota de 100 pesos hoje "é suficiente para uma gorjeta". Já a nota de 1.000 pesos argentinos (R$ 39,40 no câmbio oficial ou R$ 22,73 no paralelo) circularia com valor de 10 pesos.
Milman é membro do bloco Pro, partido do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que faz parte da principal coalizão de oposição, a Juntos pela Mudança, ao governo Fernández.
A iniciativa foi apresentada poucos dias depois que o governo anunciou que vai renovar a família de cédulas de peso argentino com um novo desenho, que entrará em circulação em seis meses, incorporando as figuras de heróis, heroínas e outras personalidades da história argentina, substituindo os animais nativos que haviam sido incorporados em 2016. Milman criticou a decisão do governo de mudar as imagens do peso argentino sem avançar com a emissão de notas de maior valor nominal e apresentou esta lei para remover dois zeros da moeda como "uma forma de pelo menos fazer a transição para um programa anti-inflacionário o mais suave possível".
Desvalorização Constante
O peso conversível substituiu o austral como moeda argentina e começou a circular em 1º de janeiro de 1992 com base na lei que em março de 1991 havia fixado a paridade entre a moeda nacional e o dólar americano, como parte das medidas promovidas pelo então Ministro da Economia, Domingo Cavallo, para pôr fim à hiperinflação de 1989-1990 e à retumbante desvalorização do austral.
Ele foi equivalente a um dólar americano durante uma década, mas com o passar do tempo e as crises recorrentes no país, sofreu constante desvalorização, e atualmente não vale meio centavo da moeda americana. A perda de valor do peso acabou forçando o Banco Central a incorporar notas de maior denominação: em junho de 2016, a cédula de 500 pesos entrou em circulação, e em dezembro de 2017, a de 1.000.
A proposta apresentada por Milman prevê que as cédulas e moedas atualmente em circulação permanecerão com curso legal para evitar a impressão de toda uma "nova" massa monetária de uma vez, porque "seria uma despesa muito significativa". Com isso, dois tipos diferentes de cédulas circulariam ao mesmo tempo no país, mas o antigo modelo seria gradualmente substituído.