Campeão olímpico em Tóquio-2021, Zhan Beleniuk também é o primeiro deputado negro da história do Parlamento ucraniano| Foto: EFE/EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Esportes e geopolítica muitas vezes se entrelaçam, e nos Jogos Olímpicos, talvez os exemplos mais críticos tenham sido o atentado palestino contra a delegação de Israel em Munique-1972 e os boicotes americano e soviético a, respectivamente, às Olimpíadas de Moscou-1980 e Los Angeles-1984.

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Nos atuais Jogos de Paris, um atleta carrega a herança de dois dos conflitos mais sangrentos dos últimos 30 anos, travados em dois continentes diferentes, ao mesmo tempo em que é parlamentar no seu país: Zhan Beleniuk, da Ucrânia.

O esportista de 33 anos compete na categoria até 87 kg na luta greco-romana e busca na França sua terceira medalha olímpica: foi prata no Rio-2016 e campeão em Tóquio-2021, a única medalha de ouro ucraniana nos Jogos disputados no Japão.

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Muitos atletas entram na política depois que se aposentam, mas Beleniuk não quis esperar: em 2019, ele se tornou o primeiro deputado negro da história do Parlamento ucraniano.

Ele é filho de mãe ucraniana, mas nunca conheceu seu pai, um piloto de Ruanda da etnia hutu que havia estudado na Universidade Nacional de Aviação da Ucrânia e voltou para o país africano antes de Beleniuk nascer.

Ele morreu em 1994, quando o filho tinha apenas três anos, na guerra civil que culminou no genocídio no qual os hutus massacraram a população tutsi e hutus moderados.

Em 2022, já campeão olímpico e deputado, Beleniuk viu a guerra bater de novo à sua porta: numa entrevista recente ao jornal inglês The Guardian, ele contou que na madrugada de 24 de fevereiro ouviu da cama as explosões da invasão russa nos arredores de Kiev. Poucas horas depois, estava no Parlamento ucraniano para votar a implantação da lei marcial.

Ele morou num acampamento no centro olímpico da Ucrânia, no sul de Kiev, antes seu local de treinamentos, onde passou a realizar um trabalho para alimentar, prestar apoio e realocar deslocados pelo conflito.

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Sem aperto de mãos

Kiev não caiu, mas a guerra continua, e Beleniuk disse ao Guardian que se recusaria a cumprimentar adversários russos ou bielorrussos caso tivesse que enfrentar algum em Paris.

“Alguns desses atletas pediram à população para apoiar seus exércitos. Nossos soldados, eu acho, com certeza não entenderiam esse tipo de comportamento [aperto de mão]. ‘Os russos tentam nos matar todos os dias e você aperta a mão deles?’ Não”, justificou.

No fim, essa situação não acontecerá. Embora Rússia e Belarus (que apoiou a invasão russa à Ucrânia) tenham sido banidas de Paris-2024, alguns atletas dos dois países competem sob uma bandeira neutra na Olimpíada, mas os atletas da luta greco-romana russos se recusaram a participar dos Jogos e os dois bielorrussos inscritos na modalidade não estão na categoria de Beleniuk. As lutas para atletas até 87 kg serão na quarta (7) e quinta-feira (8).

Beleniuk, que é o primeiro vice-presidente do Comitê Parlamentar de Juventude e Esportes, disse que 489 atletas ucranianos foram mortos desde o início da invasão russa e, segundo declarações publicadas pela agência estatal Ukrinform, quer que a participação do seu país em Paris chame a atenção para a guerra no leste europeu.

“As pessoas precisam saber o que está acontecendo no nosso país. Isso não é menos importante do que nosso desempenho nos Jogos Olímpicos. Todos os atletas ucranianos em Paris são embaixadores do Estado. É por isso que estamos nos unindo e chamando a atenção para a questão da agressão russa. Quando as pessoas souberem a verdade, elas pressionarão seus governos para que ajudem a Ucrânia mais ativamente”, disse Beleniuk.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]