Várias pessoas ficaram feridas, nesta quarta-feira, em Sucre, num confronto entre policiais e manifestantes que protestavam contra a recusa da Assembléia Constituinte em debater a proposta para que a cidade se torne a capital plena da Bolívia. Dezenas de pessoas tentaram invadir o prédio e foram rechaçadas com gás lacrimogêneo - pelo menos uma foi ferida a tiro. O tema mobiliza a cidade, onde 283 pessoas fazem greve de fome para que o assunto entre na pauta da Constituinte. Em La Paz, o clima também era de guerra. Deputados trocaram socos, chutes e empurrões no plenário do Congresso, durante debate sobre um julgamento por prevaricação proposto pelo presidente Evo Morales contra membros do Tribunal Constitucional.
A área em frente ao teatro de Sucre onde são realizadas as sessões da Constituinte se transformou numa espécie de praça de guerra. Segundo Germán Gutiérrez, do Comitê de Defesa da Capital, a intenção dos manifestantes era entregar uma carta aos deputados para que considerem a proposta de que Sucre volte a abrigar os poderes Legislativo e Executivo. Mas dezenas de pessoas tentaram invadir o prédio para impedir a abertura de uma sessão. A polícia mandou reforços, mas os confrontos se repetiram pelas ruas, quando um grupo apedrejou uma casa onde havia se refugiado um deputado do MAS.
Os protestos começaram na semana passada quando a pedido do MAS e dos constituintes de La Paz, a reivindicação de Sucre foi excluída da agenda. Sucre, no sul do país, é a capital constitucional da Bolívia, mas passou a abrigar somente o Poder Judiciário a partir de 1899, quando perdeu uma guerra civil para La Paz - que desde então é sede do Executivo e Legislativo.
- A direita está buscando a violência porque não tem argumentos para frear o processo de mudança - disse o porta-voz oficial Alex Contreras, enquanto a oposição acusa o governo de atentado à democracia.
Os 12 meses iniciais para a realização da Constituinte expiraram no último dia 6, mas a asssembléia não conseguiu ainda aprovar um artigo sequer da nova Constituição com a qual Morales pretende refundar o país. O prazo foi ampliado para 14 de dezmebro, e ontem a presidente da Assembléia, Silvia Lazarte, anunciaram que os trabalhos estão suspensos até que eles tenham segurança para trabalhar.
Por volta do meio-dia, a cena de confronto se repetiu, desta vez em La Paz, entre dezenas de parlamentares. A confusão começou quando legisladores do MAS tentaram desalojar um numeroso grupo de opositores que subira à mesa diretora para ler um informe em favor dos juízes. O deputado Antonio Franco teve um corte na sobrancelha e alguns correligionários sofreram contusões.
- É lamentável que alguns tenham chegado à violência, mas a sessão deve chegar à votação - disse Novillo a jornalistas, depois da briga de quase dez minutos, da qual pelo menos três deputados saíram sangrando.
Em maio, Morales pediu que 4 juízes do TC fossem julgados, depois de o tribunal destituir 4 ministros da Corte Suprema que o presidente havia designado em caráter interino.
A sessão foi transferida, então, para o escritório da vice-presidência, onde 68 deputados ligados ao governo - 2 a mais do que o quórum mínimo - aprovaram por 61 votos a 7 a suspensão dos quatro acusados de prevaricação. Os juízes serão agora denunciados ao Senado, que atuará como tribunal de sentença.
Enquanto isso, 40 opositores que permaneceram na Câmara consideraram a votação ilegal e resolveram dar o caso por encerrado. O Podemos acusa Morales de tentar controlar o Judiciário.
- O que o país discute neste momento é a democracia. Aqui há um partido, o MAS, que decidiu fazer o que quer - criticou a deputada Lourdes Millares.
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