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Camisetas com fotos de Che Guevara à venda em Santa Clara: símbolo da revolução de Cuba mantido em todo o país | AFP
Camisetas com fotos de Che Guevara à venda em Santa Clara: símbolo da revolução de Cuba mantido em todo o país| Foto: AFP

Cuba e EUA trocam acusações sobre situação econômica da ilha

Cinqüenta anos após a revolução cubana, a administração americana continua acusando o regime castrista de ter provocado desgastes irreparáveis à economia da ilha, enquanto Havana denuncia o prejuízo sofrido pela imposição do embargo por parte de Washington. Este prejuízo soma mais de 92 bilhões de dólares desde 1962, quando o presidente americano John F. Kennedy decidiu impor um embargo a Cuba, segundo uma estimativa oficial atualizada em outubro pelo ministério cubano dos Assuntos Estrangeiros. "Os dados cubanos podem ser questionados porque as autoridades cubanas não divulgam a metodologia" explicou Daniel Erikson, autor do livro "As guerras de Cuba", que resume as relações entre a ilha e seu poderoso vizinho nos últimos 50 anos. "No entanto, apesar de o sistema econômico comunista ter penalizado mais a ilha do que as sanções americanas, o custo do embargo é provavelmente considerável", segundo ele. Os EUA não calculam oficialmente o que a ilha deixou de ganhar com seu embargo, mas o Departamento de Comércio estima que os agricultores e criadores de gado americanos perdem a cada ano um bilhão de dólares. Isso apesar do fato de as exportações de alimentos e de medicamentos para a ilha serem autorizadas desde 2001 por razões humanitárias.

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Havana - Cuba celebra no primeiro dia de janeiro seu 50º aniversário da Revolução, em um momento de incertezas sobre sua evolução, tanto econômica quanto política, com Raúl Castro no comando, sob o olhar vigilante do fundador do regime, seu irmão mais velho, Fidel, de 82 anos. Desde que sucedeu ao irmão doente, em julho de 2006, Raúl, de 77, preconiza medidas de alívio, algumas em ruptura com o dogma comunista de igualdade social, com o objetivo de relançar uma economia já sem forças e salvar as "conquistas" da Revolução, como a Saúde e a Educação.

Ele se chocou, porém, com a reticência de defensores do status quo no seio do Partido Comunista, do qual o próprio Fidel posa de guardião da ortodoxia desde sua "aposentadoria médica". "É difícil prever a evolução do regime, mas a maioria das autoridades cubanas entendeu que a grave situação econômica obrigava o governo a fazer reformas para a sobrevivência do regime, como fizeram após a queda da URSS" em 1991, comentou um diplomata estrangeiro.

Para melhorar a produtividade em um país minado pela corrupção, Raúl Castro também autorizou o desnivelamento dos salários para fazer justiça aos que "trabalham mais", medida essa que deve entrar em vigor em janeiro. Ele prega ainda o fim das "gratuidades irregulares" a uma população que envelhece e que deverá, a partir de agora, trabalhar mais cinco anos até poder se aposentar, aos 65 anos, no caso dos homens, e 60, no das mulheres. Outra medida para "liberalizar" uma economia 90% controlada por um Estado extremamente burocratizado é a privatização das terras públicas ociosas para pequenos agricultores, de modo a reduzir a dependência do país das importações de gêneros alimentícios (84% de suas necessidades).

Se o rigor e a firmeza exigidos por Raúl para frear os gastos e a corrupção parecem responder aos anseios do comandante Fidel, a abertura e a descentralização da economia, que avançam a passos bastante lentos e estudados, não devem, certamente, agradar àquele que convocou um retorno ao socialismo "puro e simples", frente à crise financeira mundial.

Além das lutas internas no Partido Comunista, "a evolução do regime dependerá também da decisão de Barack Obama de aliviar, conforme prometido na campanha, o embargo a Cuba, em vigor desde 1962", destacou um diplomata, referindo-se ao presidente eleito dos EUA. Raúl Castro já declarou estar pronto para o diálogo, mas de igual para igual com Obama, cuja chegada à Casa Branca, em 20 de janeiro, coincide com uma retomada das atividades diplomáticas em Havana. Cuba intensificou as relações, sobretudo militares, com a Rússia, seu ex-aliado da Guerra Fria, com a China e com uma América Latina muito mais à esquerda e hostil ao modelo americano. A ilha também relançou em outubro a cooperação com a União Européia, suspensa há cinco anos.

Sobre o delicado tema dos direitos humanos, a situação ainda não mudou sob a presidência de Raúl Castro. "Pelo contrário, há uma repressão crescente" em resposta à degradação da situação econômica, decorrente da passagem de furacões (com perdas estimadas em 10 milhões de dólares, ou seja, 20% do PIB) e da queda dos preços do níquel, principal produto cubano de exportação, avalia o jornalista dissidente Oscar Espinosa Chepe.

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