O desaparecimento de cristãos não é um fenômeno recente pelo mundo, ainda mais em países marcados pela violência religiosa. No entanto, o aumento exponencial dos casos tem acendido um alerta cada vez maior, principalmente de organizações humanitárias.
De acordo com um relatório produzido pela ONG Portas Abertas, que acompanha a situação em nível internacional, o número de cristãos sequestrados mais do que triplicou entre outubro de 2019 e setembro de 2022, passando de 1.710 casos para 5.259.
Somente de outubro de 2021 a setembro de 2022, foram mais de 5 mil desaparecimentos pelo mundo.
Os registros aconteceram principalmente na África, continente que mais tem governos repressivos, segundo aponta um relatório da ONG Freedom House, que avalia a situação democrática no mundo. Os dados mais recentes mostram que ao menos 30 regimes da África e do Oriente Médio são autoritários.
São neles também que predomina a perseguição religiosa contra minorias. Os principais responsáveis pelo “sumiço” dessas pessoas são as facções extremistas, que agem principalmente na região do Oriente Médio e no território africano.
A Nigéria aparece no topo da lista de países onde o crime foi registrado mais vezes (89% dos casos notificados), com 4.726 cristãos sequestrados entre outubro de 2021 e setembro de 2022. Em seguida, aparecem Moçambique, República Democrática do Congo e o Iraque, cada um com mais de 50 episódios de desaparecimento de pessoas declaradamente cristãs nesse período.
Todos esses países têm em comum a perseguição religiosa. A Lista Mundial de Perseguição contra Cristãos, da Portas Abertas, que relaciona os locais com maior repressão ao cristianismo, classifica a Nigéria como o sexto país do ranking, com a classificação de violência extrema contra a religião, enquanto no Iraque (18º), em Moçambique (32º) e na República Democrática do Congo (37º), a perseguição é considerada severa.
Famílias sem resposta
Em abril de 2014, mais de 200 meninas cristãs foram raptadas na Nigéria pelo Boko Haram, um dos grupos terroristas mais perigosos que atuam no país. Nove anos depois, não há notícias sobre 111 delas, que permanecem sem contato com suas famílias. As outras foram resgatadas ou libertadas pela facção, de acordo com ONGs internacionais que divulgam a busca pelas vítimas.
Em 2017, o pastor Raymond Koh desapareceu na Malásia e tudo o que a sua esposa sabe é que 15 homens encapuzados o levaram. A suspeita é de que os criminosos tenham relação com o governo malaio, mas nada foi confirmado e ela aguarda atualizações do caso até hoje. A Malásia também está incluída na Lista Mundial de Perseguição por causa da fé.
Apesar de não estar entre os primeiros colocados nesse ranking, a China também é um país onde o cristianismo é combatido de maneira extremada, com episódios de perseguição e prisão de líderes religiosos.
O caso mais recente é o do pastor Chang Hao, detido em 14 de abril, na província de Yunnan. Segundo informações da Portas Abertas, ele se dedicava a cuidar de igrejas perseguidas no país, regido pelo Partido Comunista (PCCh).
Hoje, Chang Hao está preso e sem contato com a família e advogados, que não conseguiram sequer ter acesso aos documentos da acusação contra ele.
Durante a prisão, a polícia chinesa confiscou celulares, um computador, centenas de bíblias e outros livros religiosos do pastor. Os familiares não recebem nenhuma informação sobre ele desde então.
A ONG afirma que o desaparecimento de cristãos é uma das principais estratégias adotadas por extremistas contrários ao cristianismo para interromper os trabalhos religiosos nos países ou para fazer “cessar a fé” dessas pessoas.