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O desastre econômico do chavismo na Venezuela é tão grande que o governo comemorou o fato de o país ter fechado 2022 com uma inflação de 305,7%, uma das mais altas do mundo, mas que representou menos da metade da verificada no ano anterior, quando a variação acumulada dos preços foi de 660%.
No final de 2021, a Venezuela havia se livrado da hiperinflação, ao completar 12 meses com variações mensais abaixo de 50%. Nos anos anteriores, o país havia enfrentado taxas de inflação absurdas, registrando um aumento de preços de inacreditáveis 130.060% em 2018.
A forte queda na inflação foi causada por decisões como freio nos gastos públicos e restrições ao crédito. “Posso declarar politicamente, com o resultado da gestão da inflação entre os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, que foi de um dígito com tendência de queda, que a Venezuela está saindo do estado de hiperinflação”, afirmou o ditador Nicolás Maduro em janeiro do ano passado.
Entretanto, o país parece estar prestes a mergulhar novamente na hiperinflação. Ao divulgar em janeiro a inflação de 2022, o órgão independente Observatório Venezuelano de Finanças (OVF) já havia alertado que, apesar do resultado acumulado melhor na comparação com 2021, em dezembro a taxa venezuelana ficou em 37,2%, 15,3 pontos percentuais a mais em relação a novembro e o maior patamar em 22 meses.
Esta semana, o OVF divulgou que a aceleração inflacionária continuou em janeiro, com uma taxa mensal de 39,4% e uma variação interanual de 440%.
“Estes números sugerem que a economia venezuelana entrou numa fase de forte aceleração da inflação, como expressão da instabilidade macroeconômica que tem sido observada, sobretudo porque o governo não conseguiu continuar a manter a estabilidade da taxa de câmbio que aplicou até agosto de 2022”, apontou o observatório em comunicado.
“Como consequência dos níveis mais altos de inflação, os salários do setor público foram pulverizados”, acrescentou o OVF. Em janeiro, milhares de funcionários públicos venezuelanos foram às ruas das principais cidades do país para reivindicar reajuste nos seus salários, corroídos pela inflação.
O observatório destacou que a valorização do dólar, tanto no câmbio paralelo (que é o levado em conta pelas empresas venezuelanas) quanto no oficial e que o governo vinha segurando com intervenções cambiais, é um dos principais fatores da aceleração da inflação. O bolívar acumulou em 2022 uma desvalorização de 73% diante da moeda americana, numa economia altamente dolarizada.
“[...] as taxas de câmbio, tanto paralelas como oficiais, têm denotado uma significativa tendência ascendente que se retroalimenta com as expectativas de desvalorização e inflação geradas na ausência de um programa econômico que promova a estabilidade e o crescimento”, destacou o observatório.
“Assim, a economia encontra-se desancorada e sem referência clara para orientar a formação de preços frente ao abandono da âncora cambial, devido à perda de reservas internacionais que o BCV [Banco Central da Venezuela] registrou durante os anos de 2020, 2021 e 2022. Portanto, a Venezuela enfrenta um perigo evidente de entrar outra vez em um momento de hiperinflação”, alertou o OVF.
Em entrevista ao canal colombiano NTN24, o economista venezuelano José Manuel Puentes disse que o regime chavista “ancorou artificialmente a taxa de câmbio” e que o país não deve sair do ciclo de altas taxas de inflação enquanto não houver abertura política.
“Não há como dar estabilidade macroeconômica à Venezuela e, principalmente, mudá-la, se ela não conseguir um mínimo de paz social e acordos políticos”, justificou. “Ninguém acredita no câmbio [oficial] porque está muito barato, o governo tem algumas inconsistências de política econômica e o Banco Central do país tem o menor nível de reservas internacionais do mundo”, complementou.